Até o fim do ano passado, a estrutura do governo federal estava organizada em 23 ministérios. Com o fim da gestão Bolsonaro e a volta de Lula, o número de pastas saltou para 37, o que abriu espaço no primeiro escalão para um número maior de aliados do petista. Mas as nomeações não ficaram restritas à linha de frente da Esplanada. Dezenas de “companheiros” foram agraciados com cargos em secretarias, autarquias e empresas públicas. As indicações passam, inclusive, por quem não conseguiu se eleger nas eleições de 2022 — transformando o segundo e o terceiro escalões da administração lulista em cabide de empregos para derrotados.
Deputado federal por dois mandatos pelo PT do Rio de Janeiro e ex-presidente da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil, Wadih Damous não entrou para a lista de desempregados do país graças ao retorno de Lula ao poder. Apesar de ter sido rejeitado pelos eleitores para seguir na Câmara dos Deputados, ele, que já defendeu publicamente o fechamento do Supremo Tribunal Federal, ganhou de presente o comando da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em quase seis meses à frente da Senacon, Damous já coleciona polêmicas. Multar o Google e notificar o Telegram por causa de comunicados contrários ao Projeto de Lei 2630/2020 foram algumas de suas decisões.
Deputado estadual no Rio Grande do Sul por três mandatos consecutivos, Edegar Pretto foi outro petista derrotado nas urnas a ser salvo do desemprego por Lula. Depois de ficar em terceiro lugar na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, foi indicado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário para presidir a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A proximidade com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que o apoiou nas eleições estaduais, fez a nomeação ser alvo de críticas no setor produtivo. “Em hipótese alguma podemos concordar com uma organização que fomenta invasão de propriedades, isto é crime definido no Código Penal”, lamentou, em nota divulgada em janeiro, a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso.
Até políticos recém-convertidos ao petismo têm vez na máquina pública. Marcelo Freixo foi mais um a ser amparado pelo governo federal depois de não se eleger. Em 2022, foi o candidato do PSB a governador do Rio de Janeiro, sendo derrotado no primeiro turno por Cláudio Castro (PL), que conquistou a reeleição com mais de 58% dos votos válidos. Em 2023, Freixo se filiou ao PT e tornou-se presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), que é vinculada ao Ministério do Turismo. Titular da pasta, Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, tem ligações com milícias fluminenses, conforme noticiou a revista Oeste em janeiro. O tema milícia, contudo, parecia incomodar Freixo apenas durante o período em que Jair Bolsonaro era presidente da República. Agora, com cargo na Embratur, ele evita falar sobre o tema.
O segundo escalão do governo Lula também dá vez a quem já desempenhou papel no Poder Executivo. Ex-senador e ex-governador do Acre, o petista Jorge Viana tentou, sem sucesso, retomar o protagonismo no governo do Estado em 2022. Com 24,21% dos votos válidos, viu Gladson Cameli, do Progressistas, ser reeleito no primeiro turno. Sem mandato na política acreana, Viana foi agraciado com o cargo de presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Já na função, seguiu os passos do presidente da República e, em vez de ajudar a promover um dos principais setores produtivos do país, teceu críticas ao agronegócio nacional. Durante viagem à China, o novo presidente da ApexBrasil acusou os produtores rurais de serem responsáveis pelo desmatamento da Amazônia. Além disso, a sua permanência no cargo chegou a ser ameaçada pelo fato de não ter fluência no idioma inglês. Em maio, a primeira instância do Judiciário chegou a anular a nomeação dele. Três dias depois, contudo, foi reconduzido ao cargo graças a um parecer do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Dessa forma, voltou à função que é agraciada com salário mensal de R$ 65 mil.
Perdeu eleição? Tem cabidão de empregos para derrotados
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