domingo, 24 novembro, 2024
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Um presidente nômade

Anselmo Brombal – Jornalista

Viagens e mais viagens. Todas inúteis e desnecessárias. Assim vive nosso presidente. Poderia perfeitamente se juntar aos tuaregues do norte africano. Vida nômade, cada dia num lugar. Seria um beduíno. Faltam-lhe a tenda, o harém e o camelo. Se bem que camelos somos todos nós. Que sustentamos e pagamos por suas idas e vindas, quando sempre leva a tiracolo a preferida. Sem ser um sultão.
A caravana segue pelo mundo. Em cada parada, o beduíno fala suas asneiras. E é aplaudido pelos lacaios que o servem. Talvez lhe passe pela cabeça ser reconhecido, num futuro próximo, como um novo Marco Polo. Jamais será assim. Será lembrado como um inútil, esbanjador. Um salteador. Nunca um herói. Nunca um califa.
O nômade vive como se estivesse no começo dos anos 2000. Época em que chovia benesses celestiais. Época em que o mundo tinha outra economia. Essa chuva cessou, e agora lhe restam os desertos. Infindáveis desertos, habitados por miseráveis e famintos. Sobraram ao nômade as velhas práticas de suborno e de um país sem rumo e sem esperanças. Sua cota de maná terminou e ele não se deu conta.
Na falta de tenda, arma-se o picadeiro. Tenta ser o protagonista do espetáculo. Não passa de um bobo da corte. Sua ignorância é tamanha que até propôs acabar com uma guerra sentando-se à mesa com seus protagonistas. Resolvendo tudo com cerveja e torresmo. Uma mesa de bar de um meretrício qualquer. Cai-lhe bem o ambiente.
Há mais de vinte anos, numa entrevista à revista Playboy, o nômade afirmou que em sua juventude – e parte da idade adulta – fazia sexo com cabras. Um currículo e tanto. Um dia talvez ele justifique esse afeto aos caprinos. Um novo Charles Darwin, querendo entender a evolução da espécie. Talvez afirme que as cabras são quase humanas. Escrotamente falando.
O nômade não vive entre tâmaras, kaftas e quibes. Nem em tendas. Escolhe os hotéis mais caros, os pratos mais refinados. Não bebe o arak. Há bebidas melhores nesse vasto mundo. Não monta em camelos. Usa limusines. Não paga em moedas. Tem cartão corporativo. Um cartão bancado por todos nós.
No passado, o nômade fazia greves. E após cada assembleia de seus lacaios, corria para o colo do chefe da Polícia Federal, Romeu Tuma, denunciando seus companheiros. O filho de Tuma, o Júnior, escreveu livro (e não pergaminho) afirmando que a intimidade do grevista com a PF era tamanha que chegava a dormir num sofá na recepção do gabinete do delegado. Um dedo-duro, alcagueta legítimo. Para não levantar suspeitas entre os denunciados, chegou a ser preso. Um faz de conta, tal como sua vida.
Cada um leva a vida do jeito que quiser. Desde que não prejudique os demais. E isso não importa a ele. Sua aventura ainda não terminou. Há um sistema a protegê-lo das adagas legais. Há escribas pagos para louvá-lo e engrandecê-lo.
Nesse Saara em que estamos metidos, falta-nos um oásis.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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