Considerada uma doença secular, a sífilis voltou a encontrar no Brasil um espaço propício para transmissão. Nos primeiros seis meses de 2022, as autoridades sanitárias contabilizaram 79,5 mil casos da condição adquirida, além de 31 mil notificações em gestantes e 12 mil de forma congênita.
O problema afeta todas as unidades da Federação, incluindo a capital federal, mas se concentra principalmente na região Sudeste — que possui metade das infecções no país. Os dados do ano passado indicam que a doença deve se aproximar dos índices de 2021 — período em que houve 167 mil novos registros da infecção sexualmente transmissível (IST); 74 mil casos entre grávidas; e 27 mil crianças infectadas de forma congênita.
Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2022 a maior parte dos casos notificados concentrou-se no sexo masculino (60,6%) e nas faixas etárias de 20 a 29 anos (35,6%) e 30 a 39 anos (22,3%). Entre adolescentes (13 a 19 anos), os casos da condição adquirida aumentaram 2,2 vezes, quando comparados com 2015 e 2021.
O médico infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto Emílio Ribas e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, aponta o conjunto de razões que contribuem para o avanço da doença no país. “A explosão de casos pode ser atribuída a uma combinação de fatores, incluindo falta de conscientização sobre a doença; redução no uso de preservativos; acesso limitado a cuidados de saúde; e diagnóstico tardio, devido a sintomas que podem ser inespecíficos nas fases iniciais, levando à maior probabilidade de transmissão”, destaca.
O especialista acredita que a sífilis, no estágio em que se encontra no Brasil, pode ser considerada uma epidemia de preocupação de saúde pública, com um aumento progressivo e significativo dos casos.
A infecção em mulheres grávidas é ainda mais preocupante porque põe em risco a saúde da mãe e do filho. A doença pode ser transmitida para a criança durante a gestação ou parto. “Em caso de mulheres grávidas, pode levar ao parto prematuro, aborto, óbito fetal, entre outros problemas,” explica Joana D’Arc Gonçalves, médica infectologista.
No Distrito Federal, o número de casos de sífilis congênita em menores de 1 ano entre 2017 e 2021 chegou a 1.645, de acordo com a Secretaria de Saúde do DF. Os maiores percentuais se encontram em crianças com mães entre 20 e 29 anos. Em seguida, vêm os bebês de adolescentes com idades de 15 a 19 anos.
O Rio de Janeiro, segundo o relatório do Ministério da Saúde, apresentou, em 2021, o maior número de sífilis congênita. O estado contabilizou 5.186 casos notificados, equivalente a 19,2% dos registros no país. São Paulo vem em segundo lugar, com 3.926 casos, o que equivale a 14,5% das notificações. Nos dois estados, a maior incidência ocorre na faixa etária de 20 a 29 anos. Em relação à sífilis congênita, as unidades da Federação somam 38% das mortes no Brasil.
Avanço da sífilis preocupa saúde pública do Brasil
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