sábado, 23 novembro, 2024
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O nosso retrocesso

Anselmo Brombal – Jornalista

Após alguns mil anos de história, a única coisa acertada que o homem fez parece estar no Código Penal brasileiro. Quando pessoas brigam, o fato é tratado como “desinteligência”. As demais coisas, que todos conveniaram chamar de “evolução”, não passa de retrocesso. Nesses alguns mil anos houve coisas boas, mas a maioria só prejudicaram – e continuam prejudicando – o próprio homem.
Há muito tempo o homem não conhecia o fogo, descoberto não se sabe como, e usou-o para cozinhar seu alimento. Passado tanto tempo, o fogo hoje consome árvores, casas e mata pessoas. O homem criou até a bomba incendiária, e chamou isso de progresso.
O homem caçava seu alimento com lanças rudimentares e depois com arco e flecha. Até alguém descobrir a pólvora e outro alguém fabricar armas. A princípio para a caça. Hoje o homem usa tais armas para destruir seus inimigos. Para matar seu desafeto ou a mulher infiel. Também chamou isso de progresso.
O homem de antanho não tinha armas. Lutava com sua força física para sobreviver e defender sua família. Com o tempo, vieram as armas. Mas o bicho homem trouxe de volta essa luta de força física. Primeiro foram os gregos e romanos. Depois criaram regras para a luta de boxe, com uso de luvas para atenuar as pancadas. Não satisfeito, criou o UFC. Chamou isso de esporte.
O homem primitivo e os índios atuais fizeram da pesca uma forma de sustento. Mas algum iluminado resolveu torturar os peixes. Pesca-os com anzóis brutais, e depois de tirar fotografia para mostrar aos amigos, devolve-os à água. Chamou isso de pesca esportiva. Não deveria. Talvez o mais apropriado fosse tortura esportiva. E a relação do homem com os animais não parou por aí.
Retirou cães e gatos das matas e forçou-os a viverem consigo. Prendeu pássaros em gaiolas, como se entendessem seu canto, sua linguagem. Não existe animal doméstico. Gatos, cães e pássaros não nasciam dentro das casas. Modernizou a barbárie, chamando-os de pets. E rejeitou o título de dono de animais. Agora são tutores.
O homem descobriu os prazeres do sexo. Talvez, como prega a Bíblia, ao ser expulso do Paraíso. E não contente, hoje usa crianças para seu prazer. Hoje praticamente escraviza mulheres para delas auferir lucro por meio do sexo, da prostituição. O homem diz que isso é moderno. E não bastasse o convívio em família, criou o relacionamento que ele chama poliamoroso. Um homem e diversas mulheres. Ou uma mulher com diversos homens.
Sabendo da preguiça de muita gente para pensar, alguns mais inteligentes criaram a Inteligência Artificial. Que aos poucos está tomando o lugar do homem nas fábricas e nos escritórios. Chama isso de ciência. A inteligência artificial rudimentar dos anos 1960 levou o homem à conquista do espaço e da Lua. Mas o animal homem usa os foguetes para transportar bombas e jogá-las sobre outros homens.
O mesmo homem criou o telefone celular. Para telefonar. Hoje o homem usa o celular para tudo. Fotografias, mensagens, operações bancárias, paqueras. Menos telefonar. E o interessante é que milhares de invenções aconteceram nos últimos 100 anos. Desde a Revolução Industrial, na Inglaterra, não se mudava tanto o mundo. A princípio para melhor. Hoje sabemos que foi para pior.
O consolo está numa afirmação de Einstein. Perguntado certa vez, logo após a Segunda Guerra Mundial, como seria a terceira guerra, respondeu: A terceira não sei, mas a quarta vai ser a pau e pedra. Sim, vamos voltar às cavernas, para redescobrir o fogo, a roda. E começar tudo de novo.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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