Anselmo Brombal – Jornalista
Não foi surpresa para muitos a explosão da 123 Milhas. Não existe milagre. Vender passagens aéreas a preço de banana um dia iria acabar. E acabou. Com milhares de clientes na mão, amargando o calote de uma empresa que se apresentava como séria e inundava a TV de propaganda. Agora, sabe-se que o rombo é de alguns bilhões. Outro golpe. Outra Lojas Americanas.
O funcionamento da 123 Milhas era simples. Comprava as milhas que as companhias aéreas dão como brinde (brinde?) a seus passageiros. E passageiros que não mais usariam o avião vendiam essas milhas para a 123 Milhas. Como a empresa comprava barato, vendia as passagens a preços menores que as próprias companhias aéreas.
Seria para dar certo se fosse num país como a Suiça. Num país em que não houvessem políticos corruptos. Que não houvesse golpistas. Que não houvesse desonestos. No Brasil, nunca. Acontece que a 123 Milhas passou a vender passagens com base nas milhas que não tinha, que ainda não havia comprado. E quando foi às compras, não havia mais milhas disponíveis. Se essa empresa tivesse sido fiscalizada, sua explosão não aconteceria. Uma milha, em épocas passadas, era vendida a R$ 0,07.
Não que a fiscalização severa evite qualquer tipo de fraude. Nos Estados Unidos, onde a lei é pra valer e onde tudo é fiscalizado, aconteceram fraudes bilionários em bancos conhecidos internacionalmente. Mas a maioria dos casos de fraude é detectada antes de estourar.
Por aqui as coisas são diferentes. Um doleiro/investidor, há décadas, conseguiu quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Chamava-se Naji Nahas. Deu um prejuízo tremendo. Consórcios vão à falência rotineiramente por má administração. Construtoras, como a Encol, deixaram milhares de clientes sem o apartamento que já haviam comprado e pagado. E a Encol era louvada pela imprensa. Tida como um bom exemplo de negócios. Pura vigarice.
Jundiaí tem um exemplo mais ou menos recente, o do grupo Moreira, que lesou centenas de pessoas com promessa de ganhos fáceis. Nos anos 1960, apareceram uns picaretas em Jundiaí. Se apresentaram como diretores da Satel-Santista de Telecomunicações. E propuseram instalar uma grande antena no alto dos morros do Jardim Tarumã. Essa antena receberia dos sinais de TV (ana época VHF), e distribuiria tais sinais por fio. Seria uma tevê a cabo primitiva. Receberam o dinheiro e sumiram.
Procure saber o que aconteceu aos mestres desses golpes no Brasil. Nada. Alguns foram processados, outros deixaram o país. E ninguém devolveu dinheiro. Veja quantos postos de gasolina já foram fechados por falsificar produto e quantidade. Fecha o posto, mas logo seu dono abre outro, com outro nome, outro CNPJ. No mínimo há conivência nessa história.
Não há esperança de melhora. Quem dirige o país não tem idoneidade moral para disciplinar nada. É outra enganação. O jeito é ligar o foda-se.
A propósito: uma milha equivale a 1.609 metros. Uma milha náutica equivale a 1.852 metros.