quinta-feira, 21 novembro, 2024
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Mania de complicar

Anselmo Brombal – Jornalista

A Língua Portuguesa já é difícil. Considerada uma das mais difíceis do mundo de aprender. Cheia de palavras que podem ter muitas interpretações. Mesmo assim, há gente querendo complicar mais um pouco o que já está complicado demais. Talvez essa gente pense que está demonstrando erudição, conhecimento. Mas com isso deixam o básico – comunicar.
Estou me referindo a jornalistas e redatores, instalados em bons empregos. Observei, no fim de semana, alguns documentários do Discovery. É de chorar. Alguém escreveu os textos para os narradores, e narradores só reproduzem o script. E jorraram pérolas.
Faca de uma gráfica deixou de ser faca. Agora é dispositivo de corte. Motor não existe mais. Agora é unidade motriz de potência. Dar brilho a uma lâmina é submetê-la ao dispositivo de polimento. E o mesmo idiota que escreve esse tipo de coisa é aquele que escreve que uma ave se chocou com o bico do avião. Avião não tem bico. Tem nariz. Mas até acho porque ele escreveu bico. Talvez se fosse escrever nariz teria colocado lá: dispositivo de respiração…
Outra mania dos modernos jornalistas e redatores é colocar sigla em tudo. Todos sabem que ONU quer dizer Organização das Nações Unidas. Mas eles insistem. Quando é algo conhecido, como ONU, Unicef, Otan, ainda passa. Mas tudo tem sigla agora. O sujeito escreve que a determinada fábrica inventou um brinquedo. E sapeca a sigla ADC – Artefato Destinado a Crianças. Se for fábrica de vassoura, DDVC – Dispositivo Destinado a Varrer o Chão. Tenho a impressão que essa gente ganha por quantidade de palavras. Quanto mais palavras, maior fica o texto. Dá impressão de muito trabalho.
Há também o “pessoal do alambrado”. Quando escreve sobre o valor de um investimento, ou de um prejuízo, ou quantificam alunos e trabalhadores usam o infame cerca de. Há alguns anos, alguém exagerou – noticiou que num encontro havia cerca de oito pessoas. Uma cerca, ou um alambrado, totalmente desnecessário.
E algumas assessorias de imprensa capricham no Português, nas redundâncias. São comuns frases do tipo que tal medida vai beneficiar todos os bairros da cidade. Alguém aí, pode informar onde mais existem bairros, a não ser nas cidades? E nem usam a palavra beneficiar. A moda agora é escrever que vai contemplar.
Quer mais? Uma empresa, um órgão público, oferece alguma coisa. Mas agora a moda é ofertar. Tal empresa está ofertando tantas vagas de emprego. Mais uma? Tal curso tem carga horária de tantas horas. Se é carga horária só pode ser de horas. Mas dá para apostar que logo algum iluminado vai transformar essa carga em minutos, talvez segundos. E certamente o texto ficará maior.
Se alguns vão ao extremo modernismo, outros regridem alguns séculos. Uma determinada assessoria, de prefeitura por sinal, coloca a declaração do prefeito. Mas esse prefeito é rotulado como máximo mandatário da cidade. Outra mentira. Quem manda numa cidade é o dono da banca do jogo do bicho ou o dono de algum bordel frequentado pelos ilustres.
Pelo jeito, o bom senso ficou alhures…

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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