quinta-feira, 21 novembro, 2024
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Raça Negra comemora 40 anos de trajetória com navio temático

Década de criação das principais bandas do rock nacional, os anos 1980 foram dominados pelo gênero musical importado dos Estados Unidos, que dia após dia conquistava as rádios e, consequentemente, o público brasileiro. Paralelamente, o Brasil presenciava, em outro extremo da música, a criação e ascensão de um dos maiores nomes do samba — o grupo Raça Negra, que completa 40 anos de carreira em 2023. Comandada pelo cantor Luiz Carlos, a banda chegou para dividir a soberania musical do país com o movimento roqueiro e mudar a trajetória do estilo tipicamente brasileiro, sendo pioneira no segmento do samba romântico e abrindo portas para a era paulista do gênero.
O conjunto musical responsável por sucessos atemporais, como Cheia de manias, Cigana e Doce paixão, inovou a sonoridade do ritmo, incluindo elementos de sopro, metais e cordas no repertório, dando fim a época dos sambas só com pandeiros, cavaquinhos e violão. Levando o samba a lugares nunca antes alcançados, como as rádios FM, o Raça Negra faz parte da trajetória de muitos dos grupos que fazem sucesso nos dias de hoje.
Após quatro décadas, o grupo continua a provar sua relevância, sendo lembrado como uma das bandas mais queridas do Brasil. Ao longo da turnê de comemoração de 40 anos, os artistas voltaram para o ritmo do início da carreira e têm feito cerca de cinco shows por semana. “Nós conquistamos o público com a nossa maneira de cantar. Misturamos o romantismo do Roberto Carlos com o balanço do Tim Maia”, avalia o vocalista Luiz Carlos, que também aponta Jorge Ben Jor e Bebeto como influências centrais para a sonoridade do Raça Negra. “As pessoas nunca tinham visto um violino no samba, por exemplo. Foram coisas como essas que chamaram muito a atenção do público”, opina.
Para o cantor, o segredo por trás da longevidade do conjunto é a relação com os fãs. “Nós não achamos que somos os grandes artistas. Na verdade, o público é o verdadeiro artista. Foram eles que nos deram a oportunidade de fazer nosso trabalho por tanto tempo. Se fosse da vontade deles, não existia mais Raça Negra”, garante Luiz Carlos, que aprendeu a tocar violão aos 15 anos de idade, com o cunhado, e nunca mais parou. “O grande segredo é entender a responsabilidade do público no nosso sucesso”, complementa.
São diversas as conquistas do grupo paulista: na década de 1990, o Raça Negra foi o artista nacional a receber o maior cachê do país, enquanto a faixa É tarde demais entrou no livro dos recordes ao se tornar a música mais tocada em um único dia no mundo. Hoje, são 2 milhões de ouvintes mensais nas plataformas digitais, 12 milhões de seguidores nas redes sociais e 1,5 bilhão de visualizações no YouTube. Sozinho, o inconfundível dididididiê de Cheio de manias coleciona mais de 100 milhões de reproduções no Spotify.
“Ninguém nunca bateu o recorde de público da nossa temporada no Canecão, por exemplo”, relembra Luiz Carlos. O espaço, que fechou em 2010, era uma tradicional casa de espetáculos, localizada em Botafogo, Rio de Janeiro. “Nós éramos convidados a tocar nas comunidades e os shows lá eram de graça, então chegamos a tocar para um público de 60, 70 mil pessoas. A partir do momento que começamos a tocar nas casas de shows como o Canecão e o Metropolitan, nós batemos o recorde de público, porque toda a comunidade descia para nos assistir”, conta.
Em comemoração às quatro décadas de sucesso, a banda embarcará, no próximo dia 9, em um navio temático intitulado Cheia de Manias em Alto Mar. O cruzeiro promete reviver o melhor dos anos 1980 e 1990, com direito a convidados especiais como Belo, Leonardo, Menos é Mais, Fundo de Quintal e um encontro do supergrupo Gigantes do Samba, composto por integrantes do Raça Negra e Alexandre Pires.
O sucesso do grupo de Luiz Carlos não se resume apenas ao Brasil. A banda já fez turnês por toda a América Latina, cinco países da Europa, mais de 30 shows nos Estados Unidos e apresentações até mesmo no Japão. Fenômeno também na Coreia do Sul, a banda foi lembrada no K-Festival, evento coreano em celebração aos 60 anos da imigração sul-coreana no Brasil, realizado em Brasília no início do mês. Durante o festival, o embaixador da Coreia do Sul, Lim Ki-mo, chegou a entoar, em português, alguns versos do maior sucesso dos músicos paulistas.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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