Anselmo Brombal – Jornalista
Senhores responsáveis por nossas cidades,
Como qualquer cidadão curioso, tenho algumas perguntas a lhes fazer. Soam coincidências demais algumas atitudes, seja no país, no estado ou em nossas cidades. E isso nos leva a acreditar que alguma coisa está errada. Está faltando uma explicação plausível, palatável. Isso não pode ser coincidência. Vejamos.
Sempre nas semanas próximas ao Dia da Criança ou ao Natal, acontecem operações da Receita e da Polícia Federal no comércio das capitais. Procuram brinquedos importados ilegalmente, o chamado contrabando. Têm a seu favor o clamor dos fabricantes nacionais, que, incapacitados e incapazes de enfrentar a concorrência estrangeira, buscam abrigo nessas apreensões. Chamam-nos de “brinquedos piratas”. Para reforçar, usam a falta de selo do Inmetro, como se o selo resolvesse alguma coisa.
Em começo de ano, novamente o Inmetro despeja sua verborréia, alertando que tais produtos são tóxicos, que não têm a qualidade exigida por nós, brasileiros. Como se fôssemos exigentes. Nada disso. Aceitamos qualquer porcaria, desde que tenha preço. A pergunta para o caso é: essas alardeadas operações fazem parte de algum programa oficial para combater o contrabando ou tem algum incentivo dos fabricantes nacionais?
Também, em todo o final de ano, aparecem anúncios em quase todas as cidades, sobre fiscalização intensa de veículos. Novamente, o motorista é tratado como bandido, e ai dele se tiver uma lâmpada de lanterna queimada. Ai dele se estiver perto de um aparelho celular. A multa é inevitável. Não adiante recorrer, pois o órgão que multa é o próprio julgador de tal recurso.
Aqui cabem outras perguntas. A primeira: se no final de ano a fiscalização é intensa, quer dizer então que nos demais meses – janeiro a novembro – a fiscalização é frouxa? A segunda: por que somente o motorista é alvo de tanta fiscalização? E a terceira: as tais forças de segurança conhecem o expediente de criminosos, que, sabendo que são procurados, procuram andar de ônibus e de trem? Ou pelo fato de motoristas serem mais dóceis, pacíficos, não oferecem riscos como criminosos de verdade?
Nossas autoridades recorrem ao bafômetro (agora chamado elegantemente de etilômetro) para caçar motoristas bêbados. Motoristas “embriagados” por uma lata de cerveja ou um copo de vinho. Mas os acidentes de verdade, com mortes e outras desgraças, não estão relacionados à cerveja ou ao vinho. São provocados por drogas consumidas em boates, em bares noturnos, e acontecem nas madrugadas. Nas estradas, caminhoneiros que usam “rebites” provocam tais desgraças. Mas nossas autoridades não têm um “rebitômetro”; nem um “cocainômetro” para as madrugadas. E fica tudo por isso.
Se pesquisarmos no noticiário de final de ano, de Dia das Crianças, de Carnaval dos últimos 20 anos, constatamos que as notícias são as mesmas. São mudam as datas. As justificativas são as mesmas. Os resultados parcos, os mesmos. E veremos também que no final de cada temporada de caça a comerciantes e motoristas, órgãos oficiais divulgam seus balanços. Pura encenação. Combater o contrabando é obrigação no ano inteiro, não só em épocas mais propícias. Motoristas são contribuintes, são trabalhadores, são chefes de família, e não podem ser tratados como criminosos.
Nossa esperança é que um dia as coisas mudem. E os senhores tomem vergonha na cara.