Anselmo Brombal – Jornalista Agora sim terei o sono dos justos (como se canalhas passassem a noite acordados). Passei uns dez dias sapeando programas de TV e cheguei a duas conclusões. Com isso, vou aposentar as receitas de Gardenal e Rivotril, jogar fora meus chás de camomila e maracujá e ir para a cama como eu fosse feito de isopor. Vou explicar porque. A primeira conclusão é sobre os programas policiais. Brasil Urgente, na Band, Cidade Alerta, na Record e Hora de Ação na Rede TV. Só um adendo: não é uma gracinha o programa de entrevistas da Ultrafarma na Rede TV? O entrevistador ouvindo idosos comprando remédios como se estivessem num supermercado. Mas voltemos aos policialescos. Totalmente inúteis. Notícias sobre queda de árvores, enchentes, tempestades, acidentes mais sérios cabem em qualquer noticiário. Não é necessário um programa policial. E seus apresentadores narram e mostram os feitos da Polícia como grandes acontecimentos. A Polícia prendeu… e daí? A Polícia investigou e descobriu…. e daí? É o trabalho da Polícia. Merece aplauso? Merece, mas é o trabalho dos policiais. Nessa linha, não vai demorar para aparecer outros programas segmentados. O dentista X extraiu um dente… é trabalho dele. O médico Y fez uma cirurgia. O gari recolheu o lixo – trabalho dele. E no caso dos programas policiais, sobra sensacionalismo. E mais hilárias são as entrevistas. Bandido preso com rosto abaixado sem responder nada. Policiais que o prenderam dizendo “nossa equipe logrou êxito na operação”. Ou então, o próprio narrador afirmando que foi um trabalho de inteligência. Alguns apresentadores escorregam e caem na idiotice, assim como seus repórteres. Uma, do Cidade Alerta, foi para a mata onde caiu um helicóptero. Na estrada – bem precária, por sinal – resolveu dar o ar da graça mostrando uma placa indicativa onde se lia “Remédios”. Disse a anta que a placa orientava o povo que precisasse de farmácia. Nem atentou para o fato de “Remédios” ser nome do bairro. Mas engraçado mesmo foi ver Operação Fronteira, apesentado no Discovery. No capítulo que consegui assistir até o final, mostrava o trabalho da Polícia Rodoviária Federal em postos próximos à fronteira do Brasil com los hermanos sul americanos. Andou achando droga (pouca coisa), uma camionete clonada que fugiu da fiscalização (e aí novamente “a equipe logrou êxito na perseguição do veículo que se evadiu do local”) e outras amenidades. A PRF, nesse capítulo, apreendeu a fabulosa carga de 30 pares de tênis falsificados. O motorista era um senhor de aparência até certo ponto respeitável. E o policial entrou em contato com o advogado da empresa fabricante dos tênis para confirmar a falsificação. Estranha essa intimidade, essa relação, da PRF com fabricantes. No mesmo capítulo, a PRF prendeu um terrível e temido fascínora procurado pela Justiça. Havia um mandado de prisão contra ele, por falta de pagamento de pensão alimentícia. E o meliante foi colocado atrás das grades. Foi então que conclui que o dinheiro dos nossos impostos está sendo bem empregado. Pagando salários para policiais rodoviários federais tirar de circulação esse perigo à sociedade que são os 30 pares de tênis e um devedor de pensão alimentícia. Conclui também que tudo o que é vendido nessas lojas de chineses é mercadoria legal. Com nota fiscal, impostos de importação pagos e garantia total dos produtos. Enfim, agora vou poder dormir sossegado. E quem sabe, sonhar.