Na volta às aulas toda criança deveria passar por exame oftalmológico. Isso porque, é na infância que geralmente surge a miopia, dificuldade de enxergar à distância, apontada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a maior deficiência ocular no mundo. Pior: A estimativa da OMS é de que no Brasil até 2050 50,7% da população vai ser míope e a prevalência da alta miopia mais que dobra no mesmo período, passando dos atuais 3,1% para 7,1%. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, a dificuldade de enxergar compromete o desenvolvimento cognitivo da criança. Isso porque, a visão responde por 85% de nossas conexões com o meio ambiente. Além disso, em ação social realizada pelo hospital com 35 mil crianças que receberam consultas e óculos, 50% tiveram melhora no rendimento escolar quando passaram a usar óculos. Para o oftalmologista, uma das causas do aumento da miopia é o fato da maioria das crianças não passar por exame oftalmológico nos primeiros anos de vida. Outro problema, pontua, é a falta de informação dos pais. O especialista conta que em 2023 sua equipe fez um levantamento com 420 jovens casais sobre as terapias para controlar a evolução da miopia e constatou que 273 (65%) não sabiam que é possível controlar a evolução da miopia em crianças. “Tenho vários pacientes usando as novas lentes para controlar miopia, em alguns casos associadas ao colírio de atropina em baixa dose que dilata a pupila e reduz o crescimento do olho”, pontua. É verdade, comenta, que houve desistência de alguns pacientes e alguma variação na refração, mas certamente menor do que se ficassem sem tratamento. Os melhores resultados são observados em crianças que iniciaram o tratamento logo que a miopia surgiu. O oftalmologista afirma normalmente a córnea tem formato esférico. Na miopia se torna mais curva e o olho é mais alongado Estas alterações fazem a imagem que normalmente é focada sobre a retina, ser focada atrás. Resultado: todas as imagens distantes ficam desfocadas. A miopia pode ser gênica ou ambiental, salienta. Quando só um dos pais é míope o risco triplica. Se ambos forem míopes o risco é 6 vezes maior. Nestes casos o DNA da criança carrega o gene da miopia e não há como mudar. Uma das causas ambientais é a falta de exposição ao sol. Queiroz Neto que também faz parte do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) e da ABRACMO (Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia) afirma que há evidências em diversos estudos que quanto mais precoce, mais rápida é a evolução da miopia e maior o risco de alta miopia e complicações que ameaçam a visão na idade adulta, como glaucoma, descolamento de retina e degeneração macular miópica. A exposição ao sol por 2 a 3 horas/dia pode adiar a miopia em crianças de 6 a 8 anos, faixa etária em que mais desenvolve. Outro efeito do sol, ressalta, é o aumento da produção de dopamina que inibe o alongamento do olho e fortalece as fibras de colágeno da córnea. Um estudo realizado pelo especialista com 360 crianças na faixa etária de 6 a 9 anos mostra que o uso intensivo do computador e outras tecnologias aumentou a dificuldade de enxergar à distância de 21%, contra a prevalência de 12% apontada pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) para esta idade. O especialista explica que se trata de uma miopia acomodativa. Está relacionada ao esforço para enxergar de perto e pode ser revertida com mudança de hábitos. Para que a visão não fique acomodada a enxergar só o que está próximo, destaca, a cada hora de uso do computador, videogame, smartphone ou outra tecnologia por crianças é recomendado descansar de 20 a 30 minutos. A maior acomodação do olho na infância torna a visita anual ao oftalmologista obrigatória. Os pais também devem estimular a praticar de atividades ao ar livre. Isso porque, até 8 anos de idade a visão está em processo de desenvolvimento e precisa ser utilizada para todas as distâncias. Queiroz Neto afirma que no consultório e na WSPOS (World Society of Pediatric Ophthalmology and Strabismus) hoje há diferentes tipos de lentes de óculos e, lente de contato gelatinosa e lente de contato ortoceratológica que passaram por rigorosos ensaios clínicos e realmente têm controlado a miopia.