A Fundação Roberto Marinho e o Itaú Educação e Trabalho, em colaboração técnica com o Instituto Datafolha, divulgou na segunda-feira (11) a pesquisa “Juventudes fora da escola”. O estudo ouviu mais de 1,6 mil jovens, na faixa de 15 a 29 anos, em todo o território nacional, e concluiu que, dos 9 milhões de jovens que abandonaram o ensino básico no país, 73% têm intenção de voltar para a sala de aula, mas encontram na necessidade de trabalhar para ajudar a família a principal barreira para isso. “Estes são dados alarmantes e que estão relacionados com um ciclo de pobreza. A gente observa que essa realidade afeta muito mais os grupos já vulneráveis”, afirma Rosalina Soares, assessora de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho. A maioria dos estudantes que evadiu da escola é de homens, provém de famílias com renda per capita de até 1 salário-mínimo, sendo que sete em cada 10 são negros. 86% deles já ultrapassaram a faixa etária adequada para frequentar o ensino regular e, a maior parte (43%), não têm sequer o ensino fundamental completo. Seis em cada 10 desses jovens são pais e, entre as mulheres, o índice é ainda maior: oito em cada 10 são mães. “Há uma tolerância social em relação a esse problema. Quando falamos de uma população que tem em sua maioria entre 20 a 29 anos, a sociedade acha que eles têm mesmo é que trabalhar. Mas o futuro desses jovens será muito prejudicado por causa do abandono dos estudos, seus trabalhos continuarão sempre precários. E isso também é ruim para o país. A estimativa é que 500 mil jovens brasileiros vão chegar à vida adulta sem completar o ensino básico, por ano, e, com isso, o país perde 3,3% do seu PIB”, explica Rosalina. A pesquisa constatou que o principal motivo que traria esses jovens de volta à escola seria a possibilidade de melhores empregos no futuro, uma vez que, no mercado, eles tendem a encontrar condições precárias de trabalho — 67% estão ocupados na informalidade. “Uma política educacional para esses jovens vai ter que considerar que esse é um estudante que trabalha, e o mundo do trabalho precisa saber que esse é um trabalhador que precisa estudar”, pontua a pesquisadora. Sobre o que os levaria de volta à escola, os jovens destacaram a importância de contar com uma política de flexibilidade de horários no trabalho, a oferta de vagas em creches, bolsas ou outros benefícios sociais para complementação de renda, acompanhamento escolar que os ajude com suas defasagens, um currículo mais alinhado ao mercado de trabalho atual e que os prepare para conseguir melhores empregos, mas também para ingressar no ensino superior. A maioria dos pesquisados ainda prefere o ensino presencial, mas o mais importante é que haja diversidade de horários para estudar. 34% deles afirmou que não consegue encontrar vaga no horário que tem disponibilidade para estudar em instituições de ensino perto de sua casa. “A pesquisa mostra que o trabalho está no centro do interesse do jovem, é a razão dele sair e de querer voltar para a escola. A gente vem de uma tradição que dissocia o trabalho do estudo, mas ajudar o jovem a se aproximar do mundo do trabalho e se formar pra isso, para ingressar em um emprego no tempo certo, é muito positivo”, defende Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho. Segundo ela, a escola brasileira foi pensada supondo ideiais, e não a partir da realidade de seus estudantes. “Você não pensa em políticas para jovens mães, mas a realidade mostra que os jovens do nosso país têm filhos”, diz. Para superar o abismo entre o contexto dessas juventudes e as políticas públicas de educação, em sua visão, é necessário um pacto que envolva governo e setor produtivo para o fortalecimento, em especial, da educação técnica profissionalizante e de ações de inclusão produtiva de jovens, com destaque para a Lei da Aprendizagem. A legislação altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para estabelecer os direitos, deveres e requisitos do emprego de pessoas entre 16 e 24 anos na condição de aprendizes. “Precisamos conseguir mostrar para os jovens que sair da escola não compensa a longo prazo. A taxa de ocupação entre pessoas que não têm educação básica é de 58%. Com o ensino médio completo, ela sobe para 65%, e com o ensino técnico chega a 76%. Mas informação não é suficiente, porque há uma necessidade imediata de renda. Por isso, é preciso uma combinação entre espaços para reflexão sobre projeto de vida e auxílios de renda emergenciais”, complementa Rosalina.
Brasil tem 9 milhões de jovens fora da escola, mostra pesquisa
Por Anselmo Brombal
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