Especialistas em meteorologia vem atentando desde o início de 2024 sobre a possibilidade de ocorrência no segundo semestre do fenômeno climático La Niña, evento que arrefece as águas do Oceano Pacífico. No entanto, a queda de temperatura também está sendo verificada nas águas do Oceano Atlântico e podem tornar os impactos ao clima global ainda mais intensos. Nas Bacias PCJ, a expectativa é que as chuvas demorarão mais tempo para voltar no volume das médias históricas.
Segundo registros da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), após apresentar sequência de meses com aquecimento recordes das suas águas, devido ao El Niño, o Oceano Atlântico tem apresentado queda brusca dessas temperaturas, principalmente nos dois últimos meses.
Desde o início de junho, a temperatura da superfície do mar no Atlântico equatorial central tem sido 0,5ºC a 1ºC inferior à média para essa época do ano, segundo a MetSul Meteorologia. A queda na temperatura vem sendo acompanhada pelos meteorologistas, que buscam entender o que causou o novo padrão observado no local.
O MetSul informou que o mar do Atlântico apresentou temperaturas extremamente altas nos primeiros meses de 2024, com temperaturas acima dos 30ºC, e o mais intrigante foi a rápida transição para águas mais frias, verificada nos últimos meses.
O ONI (Índice Niño Oceânico) é a medida utilizada para verificação da temperatura dos oceanos. E de acordo com o NOAA, o El Niño é caracterizado por um ONI positivo maior ou igual a +0,5ºC. Já o La Niña é caracterizado por ONI negativo menor ou igual a -0,5ºC. Para ser classificado como um episódio completo de El Niño ou La Niña, os limites indicados pelo ONI devem ser excedidos por pelo menos três meses consecutivos.
Portanto, um novo mês de temperaturas com quedas de 0,5ºC no Oceano Atlântico, pode configurar um evento de La Niña ativo nessa região. A ocorrência de um La Niña duplo, em dois oceanos simultaneamente, tende a acarretar impactos mais intensos à temperatura e às precipitações ao redor do planeta.
Chuvas podem voltar só em dezembro
O especialista em hidrologia e recursos hídricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, atenta que caso se confirme a ocorrência de La Niña duplo, as chuvas na região centro-sul do Brasil, incluindo as Bacias PCJ, podem demorar ainda mais para voltar a acontecer dentro da média histórica. “Em geral, quando o La Niña ocorre no Pacífico, a tendência é de seca no centro-sul e chuva no norte e nordeste. Se o Atlântico esfriar também, essas duas configurações podem agravar ainda mais a situação ou amenizar. Estamos entrando na primavera e o La Niña atrasa o início das chuvas, que devem começar a cair ao final de novembro e início de dezembro”, alerta.
Zuffo também atenta que as vazões dos rios das Bacias PCJ devem seguir em queda. “A precipitação de chuvas devem ficar abaixo da média histórica e as vazões dos rios vão continuar diminuindo até dezembro”, atenta ele. Segundo o professor da Unicamp, as cidades que não possuem reservatórios municipais ou não são abastecidas com mananciais regulados pelas vazões do Sistema Cantareira vão sofrer mais com a estiagem prolongada nesse ano.
Segundo o mais recente Boletim Hidrológico do Consórcio PCJ, as vazões dos rios da região estão muito abaixo da média histórica, com queda de 42%, além de temperaturas médias altas, o que pressiona o consumo de água. O Consórcio tem orientado municípios e empresas a criarem Grupos de Gestão de Estiagem, que se guiem pelas orientações da Operação Estiagem, procedimentos divididos em três graus de criticidade da disponibilidade hídrica: baixa dificuldade no atendimento de água ou fase verde, média dificuldade ou fase amarela, e alta dificuldade ou fase vermelha. Para saber mais clique aqui.
De acordo com Zuffo, a estiagem em 2025 será ainda mais intensa, já que os reservatórios entraram com menos água reservada. “Pode ser que começaremos o próximo outono em 2025 com os reservatórios bem mais baixos para passar todo o período seco e provavelmente teremos problema de água, já que o Cantareira deve baixar mais 20 ou 30% até o final de 2024, entrando no ano que vem com menos água reservada”, alerta.
Zuffo defende que desde 2014 entramos numa fase que deve apresentar chuvas mais escassas e que essa fase pode durar de 30 a 50 anos, ou seja, ainda teremos mais anos com precipitações abaixo das médias históricas.