A oferta de cebolas no mercado brasileiro aumentou. Este ano, o clima favorável ajudou os produtores, ao mesmo tempo que há um aumento da produtividade nas culturas do Nordeste, de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. As cotações da cebola desabaram nos “Ceasas” de todo o país, como mostra o último boletim do Prohort, programa da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab: em média queda dos preços no atacado de 31,60% em agosto.
Há indicações de um “considerável volume oferecido no mercado, ao menos até meados de outubro”, dizem Francisco Martinelli e Renata Meneses, pesquisadores do Cepea/Usp, que apura as negociações no mercado toda semana. E diante disso, os preços cedem. “O começo do ano foi bastante problemático para a produção devido às questões climáticas”, lembra Renata. Mas a partir de maio, o clima se mostrou amigável para a cebola, a produção foi retomada e o volume ofertado aumentou gradualmente, pressionando os preços.
Os pesquisadores do HF Brasil, do Cepea/Usp, apontavam que em São Paulo a saca com 20 quilos de cebola amarela tipo 2, do Cerrado, era negociada no atacado (em 22 de agosto) a R$ 55, mas 30 dias depois o preço recuava para R$ 46,67. E em Brasília, no mesmo período, a saca da cebola amarela tipo 3 recuou de R$ 58,75 para R$ 36,60. Não foi diferente no Vale do São Francisco, a cotação média do mesmo produto perdeu entre agosto e setembro: o preço baixou de R$ 37,25 para R$20,25.
A cebola é a terceira hortaliça mais consumida pelo brasileiro. A última Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE feita em 2018, apontou que o brasileiro consome 3,1 quilos de cebola por ano. E o agricultor aposta na cultura.
A produção brasileira de cebola em 2023 foi de 1,64 milhão de toneladas, resultado de uma colheita em 49,9 mil hectares, como aponta o IBGE. Mas há estimativas de aumento de produção até o ano que vem. “Com produtividade maior e algum aumento de área, não é exagero estimar que o Brasil poderá fechar 2024 com uma produção de 1,75 milhão de toneladas”, diz Jurandi Gugel, analista de socioeconomia do Epagri, de Santa Catarina.
Só nesse estado, o maior produtor do país — que respondeu por cerca de 25% da produção nacional em 2023 — estima-se um aumento de área plantada de 17,4 mil para 18,3 mil hectares e que “colha até 580 mil toneladas, dependendo do clima no período de desenvolvimento da cultura”, diz Jurandi. Santa Catarina, portanto, pode responder por até 30% da produção brasileira entre 2024/25.
Exportação não altera mercado
Em agosto deste ano, as exportações de cebola do Brasil aumentaram: embarques de 14 mil toneladas, ou 154% acima de julho – receita de US$ 8,7 milhões, 174% maior. É a segunda maior exportação mensal da série histórica da ComexStat, a plataforma do Ministério da Indústria e Comércio que contém dados sobre as exportações do país desde 1997. Mas esse volume é pequeno e não diminui a oferta no mercado nacional.
Grande parte da cebola brasileira exportada segue para Argentina, Uruguai e Paraguai. No início do ano, os argentinos abasteceram o mercado brasileiro após a quebra de produção no Sul. Mas um atraso na colheita da região norte do país obrigou os argentinos a importar cebolas do Brasil, absorvendo 55% das exportações brasileiras em agosto último. Com a retomada do ritmo da colheita lá, esses embarques brasileiros já diminuíram em setembro.
As expectativas são de redução das já insignificantes exportações do Brasil. E como a tendência é de alta produção no Brasil, “daqui para frente o produtor de cebola deve analisar cuidadosamente os custos, pois os preços tendem a continuar pressionados”, alerta Jurandi, do Epagri.