Anselmo Brombal – Jornalista
Tornou-se vício de linguagem, ou modismo, o emprego de certas palavras em escritos, principalmente em noticiários. Não é errado seu uso. É feio e desnecessário. É o que nós, jornalistas mais velhos, chamamos de “turminha do alambrado” – sempre que alguns coleguinhas usam números, precedem tais números com o “cerca de”.
Um exemplo; tal concessionária prevê movimento de dez mil veículos no feriado. Pronto. Já passou a informação. Mas muitos coleguinhas colocam: tal concessionária prevê movimento de cerca de dez mil veículos… Outro exemplo: há dez anos fulano planta uva. Mas a turminha do alambrado não resiste: há cerca de dez anos…
Totalmente inútil e desnecessário. Modismo sem graça. Pode-se comparar ao modismo de alguns anos passados, o gerundismo. Era um tal de “vou estar anotando”, “vou estar conferindo”. Encheu tanto que com o tempo desapareceu. Com raras aparições atualmente.
Tenho a impressão que tem coleguinha que precisa mostrar serviço, produzindo textos maiores. OU tendo a necessidade de preencher determinado espaço. Na falta de informações, estica o texto acrescentando palavras totalmente inúteis e desnecessárias.
Assim, aparecem constantemente “bairros da cidade”, por exemplo. Onde mais existem bairros a não ser nas cidades? “Pavimentação com massa asfáltica” é outro exemplo. Por que não simplificar? Asfaltamento resolve tudo.
O pior de tudo é que esse modismo se alastra como praga. É um assassinato diário da estética linguística, e muitas vezes, da própria Língua Portuguesa.Totalmente contrário ao que pregava o jornalista Armando Nogueira, que, enquanto vivo, era um dos mais importantes do país: escrever é a arte de economizar palavras.
Não tenho o intuito de “converter” a turminha do alambrado ao bom gosto. Mas não custa ir aos poucos tentar modificar essa mentalidade muar. Que pode contaminar “cerca de 200 milhões de brasileiros”…