quinta-feira, 30 janeiro, 2025
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Uma história de tirar o fôlego

Anselo Brombal – Jornalista

Geralmente buscamos na leitura nossos heróis e suas peripécias. Ou no cinema. Raramente, mas muito raramente, temos esses heróis tão próximos às nossas vidas. Boa parte dos jundiaienses conheceu o fotógrafo Elio Cocheo, que morreu em dezembro de 2005. Elio foi casado com dona Nina e teve dois filhos, Francesco e Rosa Ana. Morava no Jardim Bonfiglioli, na rua Abissínia – uma coincidência que será explicada adiante.
Poucos conhecem seu passado. Um senhor passado. Elio nasceu em Roma em 1916, e desde criança se interessou pelo cinema. Sem ganhar nada, ajudava diretores e atores em filmagens, e assim foi aprendendo alguns segredos do cinema. E chegou a idade de prestar o serviço militar.
Elio foi para a Aeronáutica Militar Italiana, onde serviu sob comando de Bruno Mussolini, então capitão, filho de Benito Mussolini, o Duce. E aqui começam as aventuras. Para quem não sabia, Elio esteve em três guerras. Sem dar único tiro, sem levar tiro. Era fotógrafo e cinegrafista, e voava deitado, no chão de um avião S-79, onde, por uma abertura, colhia as imagens.
Elio esteve na Abissínia, quando Mussolini resolveu invadir a África, e lá viveu algum tempo. Até o fim de sua vida Elio não entendeu o porquê do interesse de Mussolini naquele país africano, se já tinha a Líbia. Depois disso, Elio esteve na Guerra Civil Espanhola, quando Mussolini e Hitler apoiaram Francisco Franco. Sem arma, sem tiros.
E finalmente a Segunda Guerra Mundial. E no fim dessa guerra, quando a Itália, que era aliada da Alemanha, já havia se rendido, Elio estava no norte do país e resolveu ir para o sul, para se entregar aos americanos, que já ocupavam boa parte da península. Ao passar por Milão, fotografou a execução de Mussolini e sua amante Clara Petacci, cujos corpos foram pendurados de cabeça pra baixo num posto de gasolina, para o escárnio público. Era o dia 28 de abril de 1945.
Com o fim da guerra, Elio foi trabalhar em Roma, na Cinecittá. Na época, a Cidade do Cinema poderia ser comparado à atual Hollywood. E lá conheceu gente que fez história no cinema, como Rosana Podestá, Gina Lolobrígida, Sofia Loren, Claudia Cardinale, Vittorio Gassman, Alberto de Sordi, Marcello Mastroiani, Giuliano Gemma…
Anos depois (1952), o Brasil resolveu montar um grande estúdio cinematográfico e fundou a Companhia Vera Cruz em São Bernardo do Campo. Como não havia mão de obra local, foram chamados técnicos e cinegrafistas ingleses, que ficaram pouco tempo por não se adaptar ao clima e aos costumes. A Vera Cruz buscou então os italianos, e assim Elio Cocheo chegou ao Brasil.
Na Vera Cruz, Elio foi amigo de todos – Franco Zampari e Cicillo Matarazzo, donos da Vera Cruz. Participou de filmes com Rubens de Falco, Dina Sfat, Adoniram Barbosa, José Mojica Marins (Zé do Caixão), Alberto Ruschell, Luigi Picchi, John Herbert, Zezé Macedo, Norma Monteiro, Aurora Duarte, Fada Santoro, Carlos Zara, Hélio Souto, Milton Ribeiro, Luiz Gustavo, Mazaropi e Tarcício Meira.
Depois da Vera Cruz, Elio passou a fazer documentários, viajando todo o país, juntamente com Primo Carbonari. Animado, montou sua produtora de filmes, que não foi em frente. Sem dinheiro, passou a trabalhar em Jundiaí como fotógrafo – durante alguns anos no Jornal de Jundiaí, e depois no Jornal da Cidade, onde ficou até 1996, ano de sua aposentadoria.
Como fotógrafo em Jundiaí, Elio também fez história. Nunca voltou pra redação sem a foto. Conseguiu apanhar da segurança do então presidente Médici, e não pensava duas vezes para tirar do grupo a ser fotografado alguém que ele considerava feio – ou feia. Com Gaetano Gherardi, também italiano, e Nádia Trímboli, participou do Jornal da Mulher, então um suplemento do Jornal da Cidade. A sala ocupada pelo suplemento ficou conhecida como “cantinho da perdição”, tais os assuntos abordados pelos italianos e suas intermináveis conversas e gestos.
Em 1982, a Câmara de Jundiaí lhe deu o título de Cidadão Jundiaiense. Elio morreu em dezembro de 2005, aos 89 anos.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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