“Por que achamos necessário tagarelar sobre besteiras para ficarmos confortáveis?”, disse Uma Thurman, no papel de Mia Wallace a John Travolta, interpretando Vincent Venga no filme “Pulp Fiction”. “É uma boa questão”, responde Vincent. Ao que Mia prossegue: “é quando você sabe que encontrou alguém especial: no momento que consegue ficar calado por um minuto e confortavelmente compartilhar o silêncio com a pessoa”.
Um novo estudo da Universidade de Reading, no Reino Unido, sugere que o silêncio, muitas vezes interpretado como desconfortável ou estranho, pode ser benéfico para casais em determinadas situações. Além disso, funciona como o termômetro que indica como a relação está.
A pesquisa indica que momentos de quietude podem representar intimidade, cumplicidade e relaxamento em um relacionamento.
Para investigar os diferentes efeitos do silêncio, os pesquisadores realizaram quatro estudos nos quais participantes foram convidados a refletir sobre episódios de silêncio vivenciados com seus parceiros. Alguns escreveram sobre silêncios associados a desentendimentos e tensão, enquanto outros relataram momentos de tranquilidade compartilhada.
Os resultados apontaram que o motivo do silêncio influencia diretamente suas consequências emocionais. Quando percebido como um sinal de desconforto ou hostilidade, o silêncio estava ligado a sentimentos negativos e menor satisfação no relacionamento. Por outro lado, quando o silêncio era encarado como um estado natural e confortável, ele estava associado a emoções positivas e maior sensação de conexão entre os parceiros.
A pesquisa ressalta que o silêncio nos relacionamentos pode comunicar tanto intimidade quanto insatisfação. “O silêncio compartilhado entre parceiros é uma dimensão rica e pouco explorada das relações românticas. Ele pode representar cumplicidade e entendimento mútuo ou, em outros casos, expressar julgamento e descontentamento, mesmo sem palavras”, explicaram os autores do estudo.
Nem sempre o silêncio é a resposta
O silêncio, no entanto, não deve se sobressair às conversas sobre o relacionamento, ou seja, as famosas DR’s quando necessárias, apontadas por especialistas como um caminho para construir um relacionamento saudável.
A psicanalista Vera Cristina brinca que “todos os acordos devem ser escritos a lápis”, já que, no decorrer do tempo, é preciso rever o que foi pré-estabelecido. “Penso que isso é bastante saudável, um ouvir o outro sobre as suas demandas e possibilidades de aceitação ou não”, explica
A psicóloga Andrea Lorena ressalta que um relacionamento saudável só funciona se o casal mantiver conversas assertivas, e que sempre na relação há os desejos conjuntos e os individuais. Por isso, caso a pessoa esteja descontente com a relação, é importante que ela investigue a origem desse sentimento.
“Após esse mergulho interno, a pessoa deve chamar o parceiro para conversar, sendo honesta consigo e com o outro. Em alguns casos, ambos identificarão juntos questões que podem ser comuns”, disse.
Segundo ela, o descontentamento costumar estar nas expectativas e valores depositados pela pessoa na relação amorosa.
