domingo, 13 abril, 2025
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E se fosse hoje?

Anselmo Brombal – Jornalista

Brasília, nossa capital, começou a ser construida em 1956 pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Era uma ideia que já durava mais de um século, e Juscelino teve coragem de colocar em prática. Coragem? Nunca se roubou tanto como na construção de Brasília.
Não havia nada. Tudo vinha de longe, principalmente de São Paulo e Minas, por caminhões e aviões. Sua construção foi uma farra com o dinheiro – o controle era mínimo, e a tecnologia da época facilitava a roubalheira. Há uns quarenta anos conversei com um sujeito que participou de sua construção. Quando perguntei quem roubava, a resposta foi curta: todos.
Então fico imaginando como seria a construção de Brasília nos dias de hoje. Se para construir uma ponte atualmente há superfaturamento, construir uma cidade é o que se pode chamar de “arrebentar a boca do balão”. Com os políticos atuais e sua habitual ganância, haveria uma verdadeira guerra para conseguir os melhores cargos. Os mais rentáveis.
Com o presidente que temos, logo apareceria o escândalo do Brasilião. Com os envolvidos de sempre. Com o ministro Xandão dando 24 horas para o diretor X explicar tal compra, com o Barroso escolhendo lugar para seu STF, com deputados e senadores ditando o tamanho e a decoração de seus gabinetes.
Sindicatos fariam greves porque a marmita dos trabalhadores (que também roubariam nas horas extras) não tinha carne ou batata. Advogados trabalhariam muito para impugnar concorrências públicas com cartas marcadas. E tudo, evidentemente, seria superfaturado.
Na construção de Brasília (1956-1960), caminhões basculantes entravam no canteiro de obras para descarregar pedras para o concreto. Não descarregavam. Davam uma volta e retornavam com a mesma carga. Só trocavam a nota fiscal. O mesmo acontecia com o ferro, com o cimento e com a areia. Ninguém via nada. Passava tudo. Hoje não seria tão diferente.
O Facebook e o Instagram estariam inundados de selfies e engenheiros, trabalhadores e principalmente políticos visitando as obras. Cada um reivindicando para si algum mérito na construção. E todo mundo mamando no cofre. O vice-presidente Alckmin desviando marmitas, tal qual fazia com a merenda escolar. E o STF dando palpites nos projetos de um Lúcio Costa moderno.
Lúcio Costa projetou Brasília em formato de avião – tanto que há setores chamados Asa Norte e Asa Sul. Os ministros do STF poderiam mudar para formato de navio. Os mais megalomaníacos, formato de porta-aviões. Os mais moderninhos, formato de cápsula espacial.
A cidade levou quatro anos para ser construída. Hoje essa construção não terminaria nunca. Haveria ambientalistas afirmando que a cidade destruiria o cerrado, que animais seriam expulsos de seus habitats. E toma liminar para impedir as obras.
Mudar uma capital – e construi-la a partir do nada – não é fácil. O então governador Paulo Maluf queria mudar a capital de São Paulo para o interior, mais precisamente para o meio do estado. Não conseguiu. Maluf era um suspeito em potencial para a roubalheira. Juscelino, quando resolveu construir Brasilia, tinha um jeito mais disfarçado, mais dissimulado para convencer. E não havia internet, nem redes sociais. Mal e má o rádio e a TV, além dos jornais de Assis Chateaubriand que ganhava muito para elogiar Juscelino. Hoje, esse papel de bajular caberia à Globo News e seus filhotes.
A propósito, no próximo dia 21 Brasília completa 65 anos (o feriado é para comemorar Tiradentes). A roubalheira foi tão grande que Jânio Quadros se elegeu presidente com a bandeira de varrer a corrupção (Varre, varre, vassourinha…Varre, varre a bandalheira…) Nunca se roubou tanto como construir Brasília. Hoje se roubaria muito mais.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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