A cena é recorrente, independentemente da proximidade do dia das mães. Gestantes chegam aos consultórios do Instituto Penido Burnier querendo uma nova prescrição de óculos ou lente de contato. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor do hospital e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), isso acontece porque na gestação as alterações hormonais, metabólicas e de circulação causam seis alterações temporárias que deixam a visão embaçada:
Aumento do olho seco que geralmente é do tipo evaporativo causado pela diminuição da camada lipídica da lágrima;
Maior sensibilidade à luz que pode estar associada à diminuição da lágrima, flutuações hormonais e mudanças na pressão intraocular;
Espessamento e alteração na curvatura da córnea e cristalino lentes do olho que respondem pela refração e direcionam as imagem à retina.
Queiroz Neto explica que ao serem modificadas pelo aumento dos hormônios da gravidez e retenção de líquidos, estas lentes naturais do globo ocular tornam flutuantes o grau da miopia, hipermetropia e astigmatismo. Por isso, não é recomendada a troca de óculos ou lentes de contato durante a gestação. Novo exame de refração só deve ser feito após três a seis meses do parto quando os estrogênios estabilizam em níveis normais.
Menor tolerância ao uso de lentes de contato provocada pela baixa lubrificação dos olhos;
Diminuição da capacidade de enxergar em ambientes com pouca luz decorrente da falta de lágrima e alterações hormonais.
Redução da pressão intraocular que pode afetar a tonometria, exame que indica alteração na pressão intraocular em caso de glaucoma.
Levantamento
O oftalmologista afirma que a maioria das mulheres não associa a gestação a alterações na visão e ao agravamento de outras condições mais graves e pré-existentes como o ceratocone e o glaucoma nas que mulheres que engravidam após os 40 anos. Para se ter ideia, levantamento nos prontuários de 754 mulheres atendidas nos últimos nove meses pelo hospital, mostra que só 10% sabem que a visão sofre alterações durante a gestação.
Tratamento e prevenção
Queiroz Neto afirma que mulheres que têm ceratocone devem planejar a gestação com o oftalmologista, programando antes o crosslinking, único procedimento que interrompe a progressão da doença com aplicação de riboflavina (vitamina B2) associada à radiação ultravioleta para fortalecer a ligações da fibras de colágeno da córnea Outro tratamento pré-gestação é o implante de anel intraestromal que aplana a córnea. Durante a gravidez o acompanhamento deve ser trimestral.
Ceratocone e Olho Seco
Para prevenir complicações no ceratocone e olho seco Queiroz Neto recomenda manter os olhos lubrificados com lágrima artificial sem conservante, evitar ambientes climatizados, aplicar compressas frias nos olhos, manter o ambiente umidificado e evitar o excesso de telas, seguindo a regra 20/20/20 – fazendo pausas de 20 segundos olhando para algo a 20 pés (6 metros) a cada 20 minutos.
Glaucoma
O oftalmologista afirma que em gestantes todo tratamento deve ser minimamente invasivo para não comprometer a saúde do bebê. “Muitas mulheres com glaucoma tem redução espontânea da pressão intraoculares, mas nem todas”, pontua. Nos casos em que a pressão do olho se mantém alta uma alternativa de tratamento é a aplicação de laser. Caso seja necessário o uso de colírio a orientação é ocluir por dois minutos o canal lacrimal no canto interno do olho para evitar que o medicamento entre na corrente sanguínea e afete a saúde do bebê, finaliza.