A Base Ecológica da Serra do Japi, localizada dentro da Reserva Biológica que protege um dos mais importantes remanescentes da Mata Atlântica paulista, tem sido palco de importantes pesquisas científicas. Entre elas, destaca-se o estudo liderado pelo pesquisador Rodolfo Mei Pelinson, pós-doutorando da Unicamp, que ao longo de seis meses visitou mensalmente com sua equipe a base para conduzir experimentos inéditos sobre os efeitos das cinzas de queimadas em ecossistemas aquáticos.
O experimento visa simular o impacto da deposição de cinzas, resultantes de queimadas naturais e agrícolas, sobre ambientes aquáticos. “Temos muitos problemas com queimadas, principalmente nas estações secas, e isso tem se agravado ano após ano. Ainda não sabemos com clareza qual é o efeito das cinzas que são levadas pelas chuvas para dentro desses ecossistemas”, explica Rodolfo.
Para isso, a equipe montou na Base Ecológica um sistema experimental controlado: tanques com água que simulam ecossistemas aquáticos em escala intermediária, nos quais foram adicionadas cinzas de dois tipos: cana-de-açúcar e ingá, uma planta nativa da Mata Atlântica que também ocorre no Cerrado. “Esse ambiente controlado permite que manipulemos as variáveis de maneira precisa, algo difícil de fazer na natureza, onde os fatores são múltiplos e incontroláveis”, detalha o pesquisador.
O processo de pesquisa
Durante os seis meses de trabalho, a equipe coletou periodicamente amostras de diversos organismos aquáticos, como insetos, larvas de anfíbios, zooplâncton, fitoplâncton, bactérias e fungos. Esses materiais são levados ao laboratório para análises genéticas e identificação das espécies, permitindo avaliar como a introdução das cinzas altera a composição e o funcionamento das comunidades aquáticas.
“A presença dessas cinzas pode afetar processos ecológicos essenciais, como a decomposição da matéria orgânica. Dependendo da dinâmica, esses ambientes podem atuar como fontes ou drenos de carbono, afetando os serviços ecossistêmicos que eles prestam”, ressalta Rodolfo.
A pesquisa integra um projeto temático maior, financiado pela Fapesp, que busca entender como diferentes aspectos das mudanças climáticas, como o aumento das temperaturas, o carreamento de nutrientes agrícolas e a intensificação das queimadas, afetam a dinâmica dos ecossistemas aquáticos. O estudo também conta com apoio indireto da Capes e do CNPq, por meio de bolsas para alunos de mestrado e doutorado envolvidos na pesquisa.
