Cansaço constante, sonolência excessiva, dificuldade de concentração, irritabilidade, dor de cabeça e a sensação de não ter descansado, mesmo após várias horas na cama, são sinais típicos de uma noite mal dormida. Durante as férias, mudanças na rotina de sono são comuns: segundo um levantamento da Royal Philips, 63% das pessoas alteram significativamente seus horários de sono nesse período, e mais da metade relatam cansaço na volta à rotina.
Uma única noite mal dormida já pode reduzir a atenção, a concentração e a capacidade de tomada de decisão. Além disso, a privação de sono, mesmo leve, pode aumentar em até 60% os níveis de irritabilidade e estresse, prejudicando as relações pessoais, alerta a Associação Americana de Psicologia.
Embora as férias sejam, em tese, um momento para relaxar e recarregar as energias, o neurologista Felipe Franco da Graça chama a atenção para os riscos de uma rotina desregulada de sono. “Cada hora a menos de sono pode reduzir atenção, memória e controle emocional. Ainda não compreendemos totalmente todas as funções do sono, mas sabemos que a sua privação tem efeitos sérios: pode agravar doenças crônicas e aumentar o risco de problemas como AVC e infarto”, afirma.
Segundo o especialista, o recesso pode ser uma boa oportunidade para recuperar o sono atrasado, mas exageros também fazem mal. “Dormir muito, acima de oito ou nove horas por dia com frequência, pode ser tão prejudicial quanto dormir pouco. Os dois extremos desregulam o ritmo circadiano e dificultam a retomada da rotina”, explica.
Outro problema comum nas férias é a alteração brusca nos horários de dormir e acordar, com atrasos de duas horas ou mais, o que provoca um descompasso entre o relógio biológico e o ambiente externo. Pesquisas indicam que isso impacta negativamente o metabolismo, o humor e até a saúde cardiovascular.
O neurologista também destaca os riscos entre os mais jovens. “Entre adolescentes, o sono irregular nas férias pode dificultar o ajuste cognitivo e emocional na volta às aulas”, alerta. O uso excessivo de telas é um dos principais vilões desse cenário. “A exposição prolongada a celulares, tablets e televisão reduz a produção de melatonina, o hormônio que sinaliza o corpo para dormir. O ideal é evitar esses dispositivos de duas a três horas antes de dormir e incentivar atividades mais tranquilas, como leitura”, recomenda.
Para garantir um descanso de qualidade, o especialista orienta: manter horários regulares para dormir e acordar, com variações pequenas; evitar bebidas estimulantes no fim da tarde e à noite; reduzir o uso de telas antes de dormir; praticar atividade física regularmente, mas evitar exercícios intensos à noite; nos últimos dias de férias, retomar gradualmente os horários habituais de sono; “Férias devem ser um tempo de recuperação, mas isso só acontece se o sono for respeitado como parte essencial da saúde”, finaliza o neurologista.
Sono nas férias: descanso merecido ou risco à saúde?
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