As mudanças climáticas deixaram de ser um problema distante e já afetam de forma direta a saúde da população brasileira. Ondas de calor, secas prolongadas, tempestades e enchentes vêm alterando padrões de doenças, agravando quadros crônicos e pressionando o Sistema Único de Saúde (SUS). Em um país tropical, com forte desigualdade social e alta exposição a vetores como o Aedes aegypti, os impactos tendem a ser ainda mais intensos.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, a crise climática é também uma crise sanitária. Estudos mostram que ela agrava doenças respiratórias e cardiovasculares, aumenta a incidência de arboviroses como dengue e chikungunya, compromete a segurança alimentar e hídrica e afeta a saúde mental, especialmente em comunidades vulneráveis.
Na Atenção Primária à Saúde, esses efeitos já são sentidos no dia a dia. “Períodos de calor extremo e baixa umidade podem acarretar no aumento de pacientes com crises respiratórias. Já as enchentes tendem a impactar no crescimento dos casos de dengue e outras arboviroses. Essas mudanças no padrão das doenças exigem que a atenção primária esteja cada vez mais preparada para prevenir, diagnosticar e tratar de forma rápida”, explica o médico da Família e Comunidade Raul Queiroz.
Entre as pessoas mais atingidas, estão aquelas que possuem asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, rinites alérgicas e sinusites. “A exposição maior a poluentes e às mudanças bruscas de temperatura irritam as vias aéreas e aumentam a suscetibilidade a infecções”, detalha. Ele também lembra que problemas cardiovasculares podem surgir de forma indireta. “A desidratação, a nutrição inadequada e as alterações da pressão arterial, somadas à queda da imunidade, pioram a hipertensão e a diabetes, aumentando o risco de infarto e AVC.”
Dados do Lancet Countdown mostram que no Brasil a capacidade de transmissão da dengue pelo Aedes aegypti aumentou 95% entre 2013 e 2022 em relação às décadas anteriores, um reflexo direto das mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, eventos como a seca histórica na região Norte em 2023-2024 deterioraram a qualidade do ar e elevaram doenças respiratórias em cidades como Manaus.
Raul ressalta que as Unidades Básicas de Saúde atuam de forma preventiva, promovendo educação em saúde, monitoramento de riscos e busca ativa de pacientes vulneráveis. O profissional recomenda medidas simples, mas essenciais: hidratação adequada, uso de protetor solar e roupas leves, conservação segura de alimentos e bebidas e evitar contato com água de enchentes.