terça-feira, 9 setembro, 2025
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Uso indiscriminado de suplementos pode ameaçar a saúde renal

O Brasil ocupa hoje o posto de terceiro maior mercado de suplementos do mundo. Em 2024, o setor movimentou R$ 4,6 bilhões no país, enquanto o mercado global chegou a US$ 28 bilhões, conforme dados da Euromonitor. A expectativa da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri) é de que o segmento atinja R$ 9,6 bilhões até 2028, um crescimento acumulado de 120%. Estima-se que dois em cada três lares brasileiros tenham pelo menos uma pessoa utilizando algum tipo de suplemento.

Por trás dos números expressivos, no entanto, Alessandra Bonilha, médica nefrologista da Santa Casa de São Roque, faz um alerta importante: o uso excessivo ou indiscriminado desses produtos pode comprometer a função renal. Segundo ela, a sobrecarga nos rins causada pelo consumo inadequado de proteínas, creatina, vitamina D e outras substâncias têm se tornado cada vez mais frequente, especialmente entre os jovens.

“Já observamos casos de lesões renais graves causadas por suplementação sem acompanhamento profissional. Há relatos de pacientes que desenvolveram cálculos renais e, em situações mais críticas, evoluíram para quadros de insuficiência renal aguda, precisando recorrer à hemodiálise”, afirma a especialista.

Os rins funcionam como filtros do organismo e são responsáveis por eliminar pela urina as substâncias ingeridas. Quando há excesso de proteínas, seja de origem animal ou vegetal, de creatina ou algum outro suplemento, o órgão precisa trabalhar mais para filtrar os resíduos metabólicos, o que pode levar à disfunção renal temporária ou permanente.

“Entre os principais sinais de que algo não vai bem com os rins estão alterações na coloração e na quantidade de urina. A orientação é que quem consome suplementos de forma regular realize exames de creatinina, uréia e urina tipo I, além de ultrassom de rins e vias urinárias, especialmente em casos com predisposição a doenças renais”, explica Alessandra.

Além disso, suplementos contendo cafeína ou vasodilatadores, comuns em fórmulas pré-treino, podem influenciar negativamente a função renal, se usados incorretamente. “A cafeína, por seu efeito diurético, pode aumentar a produção de urina e favorecer a eliminação de toxinas. No entanto, em doses elevadas ou em indivíduos com problemas renais prévios, pode causar sobrecarga nos rins e trazer prejuízos à saúde. Já os vasodilatadores, ao promoverem o relaxamento dos vasos sanguíneos, tendem a melhorar o fluxo sanguíneo renal e reduzir a pressão arterial. Mas em excesso, podem interferir na autorregulação do órgão”, pondera.

Apesar da água ser primordial para quem usa suplementos, a ingestão de grandes volumes também pode representar um risco. “A hiper-hidratação pode causar hiponatremia, condição caracterizada por baixos níveis de sódio no sangue, com sintomas como confusão mental, convulsões e, em casos graves, coma. O excesso de água pode mascarar os sintomas de sobrecarga renal. Beber água é importante, mas sempre com equilíbrio”, explica Bonilha.

A médica destaca, ainda, que a suplementação pode ser segura quando feita corretamente e com supervisão de especialistas. A atuação integrada de nefrologistas, nutricionistas e médicos do esporte é essencial para garantir essa segurança, principalmente para atletas ou pessoas que buscam melhorar o desempenho físico.

“Para indivíduos saudáveis, produtos como whey protein e creatina, nas doses indicadas, geralmente não causam danos. O problema é o uso por conta própria, sem avaliação médica. Antes de iniciar qualquer suplementação, é fundamental checar se ela é realmente necessária e segura para aquele organismo”, reforça.

O risco se agrava quando os suplementos são combinados com outras substâncias, como anabolizantes ou termogênicos. “O uso de anabolizantes está associado ao aumento da pressão arterial e a danos celulares nos rins. Já os termogênicos podem agravar problemas gastrointestinais e são contraindicados para pessoas com doenças renais, hepáticas ou distúrbios da tireoide”, explica a médica.

Sendo assim, antes de ingerir qualquer tipo de suplemento, é primordial solicitar a um especialista uma análise, por meio de exames clínicos. “Muitos desses suplementos são possíveis de ingerir, na quantidade ideal para o corpo, por meio de uma alimentação equilibrada. Apenas quando identificada uma deficiência nutricional ou necessidade específica é indicado suplementar. Mas nunca por conta própria. A orientação profissional é indispensável”, conclui a nefrologista.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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