Anselmo Brombal – Jornalista
Todos os países têm seus heróis. Pessoas que num momento ou outro da história se destacaram e deram à sua gente motivos para se orgulhar. São lembrados em datas festivas, e os currículos escolares narram sua história. Todos têm, menos o Brasil. E quando nos empurram algum suposto herói, esse é às avessas.
Neste 23 de outubro, há 119 anos, um brasileiro provou ao mundo que nós, humanos, poderíamos voar. Alberto Santos Dumont fez a proeza no campo de Bagatelle, em Paris, cidade que já o havia aclamado por seus balões dirígíveis – foi o primeiro, talvez único, a contornar a Torre Eiffel num balão. Santos Dumont voou pouco mais de 60 metros com seu avião, o 14-Bis.
E quem lembra? Pouquíssimos. Seu feito será lembrado em quartéis da Aeronáutica e em alguns aeroclubes do país. E as escolas? Nada. Oficialmente, 23 de outubro é o Dia do Aviador.
Nosso último herói foi Ayrton Senna, o piloto da velocidade e das ultrapassagens impossíveis, morto em acidente no dia 1º de maio de 1994. Antes dele houve Pelé. E mais ninguém. Os “heróis” da história não passam de ópera bufa. E bem mal cantada e contada.
Pedro Álvares Cabral, o descobridor, não descobriu nada. Todo mundo sabia que havia esta terra. E Cabral veio para cá para explorar riquezas. Dom João VI veio de Portugal e aqui instalou a sede do Reino de Brasil, Portugal e Algarves. Veio fugido, e aqui chegando expulsou brasileiros de suas casas para instalar sua corte.
Seu filho, D. Pedro I, “proclamou” a independência. Pressionado pela mulher, Maria Leopoldina, uma austríaca inteligentíssima, e por um conselheiro, José Bonifácio. D. Pedro não passava de um pândego, um medroso, e só estava em São Paulo porque visitava regularmente sua amante, a Marquesa de Santos.
Deodoro da Fonseca “proclamou” a república por acaso. A briga toda foi por causa de uma mulher, disputada Deodoro e pelo senador Gaspar Silveira Martins. Essa mulher era Maria Adelaide Neves Meireles, filha do general e barão Andrade Neves. E os revoltosos não queriam derrubar D. Pedro II, e sim o ministro visconde de Ouro Preto. A lambança foi tanta que somente na noite de 15 de novembro de 1889 a república foi anunciada na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”, era tão velhaco quanto qualquer político dos dias atuais.
Como somos um país sem memória, logo até Santos Dumont vai desaparecer da história, assim como Senna e Pelé. O que é profundamente lamentável.
Nota: Os irmãos Orville e Wilbur Wrigh voaram antes de Santos Dumont, em 1903. Mas suas experiências eram secretas, longe dos olhos do público. E até hoje os americanos não engolem a história de Santos Dumont.
Santos Dumont teve seu rosto estampado na nota de dez mil cruzeiros, depois dez cruzeiros novos em 1967, que nunca valeu alguma coisa, aqui no Brasil.