quarta-feira, 12 novembro, 2025
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A Encol e o risco de novos golpes

Anselmo Brombal – Jornalista

Há 26 anos, o país foi pego de surpresa (mas nem tanta surpresa) com a falência de sua  maior construtora, a Encol. Quase 50 mil famílias sofreram o golpe – haviam comprado apartamentos, pagaram por eles e nada receberam. Muitas brigam na Justiça até hoje. Outras, criaram asssociações e tocaram as obras de prédios inacabados, depois de conseguir que a Justiça liberasse as construções. Jundiaí também foi vítima da Encol.

A Encol foi pro buraco por alguns motivos. O primeiro porque acreditava que todo mundo era trouxa, e só ela, a construtora, esperta. O segundo é porque foi mal administrada – soube-se depois da falência que seus diretores faziam retiradas bem grandes de dinheiro e pouco usavam na construção. E o terceiro, porque “pedalou”.

Lançava novos empreendimentos, e com o dinheiro tocava os anteriores. Como isso era insuficiente, tinha necessidade de lançar novos prédios quase todas as semanas. Pedalou, ou numa linguagem mais clara, usou o esquema de pirâmide. Ou esquema de Ponzi – dinheiro novo para cobrir problemas mais velhos. É o princípio da bicicleta – enquanto o ciclista pedala, ela anda e o ciclista não cai. Parou de pedalar vai pro chão.

Os primeiros sinais públicos de que a Encol não estava bem das pernas apareceu numa reportagem da revista Veja em 1996. Nela, a Encol expunha sua fraqueza de maneira soberba, ao afirmar que fazia qualquer negócio, inclusive o escambo. De forma elogiosa (provavelmente bem paga), a Encol adotou em sua publicidade o fato de trocar carro, terreno, safra agrícola, jóias – qualquer coisa – como pagamento, ou parte dele, na compra de seus apartamentos.

No começo, onde a Encol chegava era motivo de festa. Sinônimo de progresso. Muitos de seus diretores e gerentes beiravam a arrogância. Eram bajulados por políticos e toda equipe de marketing de jornais, rádios, revistas e televisão – de olho no volume de publicidade da Encol. E a construtora não economizava na publicidade. Só que não pagava. Era calote geral. Em novembro de 1997 a Encol pediu concordata (hoje recuperação judicial). Em março de 1999 a Justiça decretou sua falência, depois que auditorias mostraram a contabilidade escabrosa da construtora.

O mercado se assustou, mas pelo jeito não aprendeu. O consumidor está mais desconfiado, mas há construtoras insistindo no modelo Encol, pelo menos aparentemente. Lançamento atrás de lançamento. Entregas minguadas. A desconfiança é geral. O risco de novos golpes existe, agora mais aperfeiçoados.

Não adianta contrato, garantias e outros quetais. Quando a paulada vem, é pra acabar com tudo. Devolver dinheiro é folclore. Ir à Justiça nem sempre resolve – a Justiça é lenta demais, burocrata demais e eficiente de menos.

A Encol deixou lições, mas ao que parece tem lá seus seguidores.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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