Anselmo Brombal – Jornalista
As previsões (encomendadas) são otimistas. Deverá ser o melhor Natal dos últimos tempos. Comércio vai faturar milhões, talvez bilhões. Tudo mentira. Estamos vivendo uma senhora crise. Falta dinheiro pra tudo. As perspectivas para o próximo ano são as piores possíveis – mais impostos, mais controle do governo sobre seu dinheiro.
Mas o mundo não para. Dezembro é época de prefeituras inaugurarem projetos, como Natal Iluminado, Natal de Luzes, Natal dos Sonhos, Natal Encantado… tudo falso. E para quem acha que o país está uma maravilha, basta olhar as lojas (vazias), o ânimo dos possíveis compradores e o assunto que domina qualquer roda de conversa – crise.
Em anos passados, restaurantes estariam cheios com confraternizações de funcionários de empresas, de amigos. Barulheira infernal, baixaria sem limites. Troca de presentes do amigo secreto. Povo estaria nas ruas carregando sacolas e mais sacolas de compras. Todo mundo fazendo planos para passar uma semana na Praia Grande. Cadê tudo isso?
Não falta propaganda, tanto no rádio, quanto na TV e na Internet. Liquidação em dezembro é novidade. Normalmente ficaria para janeiro. Mas não é liquidação, é o chamado corte de gordura. Preços inflados que voltam à realidade. Ou quase. Prestações a perder de vista. Não é porque é Natal que você precisa comprar sapato novo, camisa nova, vestido novo. E se a geladeira estiver funcionando, deixa pra comprar uma nova quando a situação melhorar.
Até o Papai Noel está mais magro. Nada daquele velhinho bonachão que até assustava crianças na hora da fotografia. Enfeite de Natal agora é aquele cordão de led colorido vindo da China. Festões, bolas, sininhos, estrelas… esquece. Custam caro.
Até idosos, que deveriam estar aposentados de fato, estão trabalhando. Uma, porque o mercado de trabalho está escasso de gente mais nova com vontade de trabalhar. Duas, porque precisa. Falta gente para trabalhar – e há 98 milhões de pessoas (metade da população) vivendo de “benefícios” do governo, como Bolsa Família, Vale-gás e até Auxílio reclusão. Falamos em “benefícios”, mas é bom saber que o governo não lhe dá nada que antes não tenha sido tirado de você.
Luzinhas de Natal são bonitas, mas é preciso haver motivos. Mas o povo se contenta com pouco. Acha bonito o desfile do caminhão iluminado da Coca-Cola, ou do trem da MRS. Vai ao centro de suas cidades para passear no trenzinho do comércio, que é de graça. E entope as redes sociais com cartões virtuais de Natal. Pobre povo, enganado com tão pouco.
Um amigo, vendo tudo isso, profetizou: logo não haverá galinha na macumba. Pai-de santo vai usar caldo Knorr.



