Anselmo Brombal – Jornalista
Pois é, acabou a gandaia. Terminaram o Natal Encantado, o Natal Luz, o Natal Sustentável, o Natal das Estrelas. Terminaram as festinhas de confraternização, os amigos secretos (mais falsos que nota de três reais), o foguetório dos ignorantes. Chegou janeiro, chegaram as contas. E os aumentos de preços em quase tudo. Bora preparar o bolso e se prevenir com Lisador, Neosaldina e Rivotril. Não vai ser fácil.
Logo chega – se já não chegou – a lista de material escolar. Logo o perueiro (oficialmente transportador escolar) vai trazer o carnê do ano todo, e você vai pagar todos os meses, mesmo nos meses de férias escolares. Seu IPTU também não vai lhe esquecer. Menos ainda a fatura do cartão de crédito. Cigarros e bebidas também tiveram aumento. E pelo jeito vem mais.
O Serasa disse que 70% das famílias brasileiras estão endividadas. Acho que é mais que isso. O Serasa não leva em conta as dívidas no armazém, na quitanda, na padaria, no boteco e aquelas com agiotas. Se somar tudo, passa de 90%. Financeiras e bancos até que têm alguma paciência com quem deve. Facilita, dá desconto. O importante é receber, não perder tudo.
Mas os órgãos públicos e concessionários de serviços públicos são impiedosos. A Sabesp manda mensagem de whatsapp e e-mail se o sujeito atrasar o pagamento da conta de água cinco dias. Mensagem quase educada: “consta débito de…” E termina assim: “Se o débito já foi quitado, desconsiderar este aviso”. Sinal que a Sabesp é desorganizada, que não sabe quem pagou e quem deu o bolo.
No fim de ano fizeram de tudo para arrancar seu couro. Outubro, presente para as crianças. Novembro, a Black Friday, e em dezembro o Natal. Agora, início de ano, quem vai arrancar seu couro é o Estado, com o famigerado e ilegal IPVA, as prefeituras, com o IPTU, as escolas particulares, com as taxa de matrícula e rematrícula, as papelarias com o material escolar, e lojas que vendem uniforme escolar. Em tudo o que você comprou, ou ainda vai comprar, estão os impostos. Um dinheiro que você sabe que será roubado.
Nossa cultura (entenda-se educação financeira) não é para tantas contas e tantos pagamentos. A maioria vai gastando, se enfiando no cartão de crédito para depois ver o que faz. Os mais crédulos contam com Deus para resolver tais problemas. Os crédulos dos crédulos (podemos nomeá-los Top Crédulos) sonharam com a Mega Sena da Virada. Acabaram virando seus traseiros para onde não deviam.
Mesmo assim, essa maioria parece não aprender. Logo virá o Carnaval. Depois vem a Semana Santa. E o que tem a ver Semana Santa com compras? Nada. Mas a maioria gosta de viajar. E gastar. Parece haver prazer em passar horas numa fila de pedágio extorsivo. Mais prazer ainda dirigir nos congestionamentos. Até chegar à praia e enfrentar filas na padaria, no supermercado, no posto de gasolina…
E enquanto você se ferra para dar conta dos problemas, seu presidente e sua cuidadora estão numa praia isolada, guardada por militares, sem qualquer possibilidade de alguém acessá-la. E você pagando mais essa conta.
Acho que chegou a hora de experimentar um baseado.
