Os 24 astronautas da Nasa que viajaram à Lua nas missões Apollo nas décadas de 60 e 70 são considerados os pioneiros da exploração lunar. Mais de 65 anos depois, a agência espacial americana intensifica seus esforços para colocar mais uma vez seus pesquisadores na superfície lunar.
A Nasa deveria lançar a Artemis II, a sua primeira expedição lunar tripulada em mais de 50 anos, em novembro. Mas os planos tiveram que ser adiados e a agência anunciou que o lançamento não deve acontecer antes de setembro de 2025.
No anúncio, o chefe da Nasa, Bill Nelson, disse que o primeiro pouso tripulado, originalmente planejado para 2025 como parte da Artemis III, será agora lançado em setembro de 2026, no mínimo. A China também pretende enviar astronautas à superfície lunar até 2030. Todos esses esforços realçam o triste fato de que o número de astronautas do programa Apollo ainda vivos está diminuindo.
Ken Mattingly e Frank Borman, dois participantes do programa, morreram com poucos dias de diferença no final do ano passado. Restam apenas oito pessoas que viajaram além da órbita da Terra. Quem são elas e quais são suas histórias?
Buzz Aldrin (Apollo 11) – Em 21 de julho de 1969, o ex-piloto de caça Edwin “Buzz” Aldrin abandonou sua nave de pouso lunar e se tornou a segunda pessoa a pisar na superfície lunar. Quase 20 minutos antes, o seu comandante, Neil Armstrong, tornou-se o primeiro a alcançar tal feito. As primeiras palavras de Aldrin foram: “Bela vista”. “Isso não é extraordinário?”, perguntou Armstrong. “Vista magnífica aqui.” “Magnífica devastação”, respondeu Aldrin.
Ser o segundo nunca lhe agradou muito. Seu companheiro de tripulação Michael Collins disse que Aldrin “se ressentia de não ter sido o primeiro na Lua mais do que apreciava ser o segundo”. Mas ainda assim Aldrin estava orgulhoso de sua conquista. Muitos anos depois, quando confrontado por um homem que afirmava que a Apollo 11 era uma fraude, Aldrin, aos 72 anos, deu-lhe um soco no queixo.
E após a morte de Neil Armstrong em 2012, Aldrin disse: “Sei que muitos milhões de pessoas em todo o mundo se juntam a mim no luto pelo falecimento de um verdadeiro herói americano e do maior piloto que já conheci”. Apesar dos problemas que enfrentou mais tarde na vida, Buzz Aldrin nunca perdeu a sede de aventura e participou em expedições ao Polo Norte e ao Polo Sul, esta última aos 86 anos.
Embora assuma sua posição de celebridade, ele continua sendo um defensor do programa espacial, especialmente da necessidade de explorar Marte. “Não acho que deveríamos simplesmente ir lá e voltar; fizemos isso com a Apollo”, diz ele. Além disso, seu nome ficou conhecido entre as novas gerações como inspiração para a criação de Buzz Lightyear, personagem da série de filmes de animação Toy Story. Em janeiro de 2023, aos 93 anos, ele se casou pela quarta vez.
Bill Anders (Apollo 8) – Em dezembro de 1968, Bill Anders voou na Apollo 8, a primeira missão em que os humanos viajaram além da órbita baixa da Terra e o primeiro voo tripulado a alcançar e orbitar a Lua. Quando a espaçonave emergiu de trás da Lua para cruzar sua face pela quarta vez, a tripulação testemunhou um “nascer da Terra” pela primeira vez na história da humanidade, e Anders capturou o momento diante das câmeras. Ele foi o primeiro a capturar uma fotografia colorida da Terra tirada do espaço.
A imagem é amplamente reconhecida por ter desencadeado o movimento ambiental global e levado à criação do Dia da Terra, um evento anual para promover o ativismo ambiental e a conscientização sobre o cuidado do planeta. “Viemos aqui para explorar a Lua, e a coisa mais importante que descobrimos foi a Terra”, disse Anders ao falar sobre aquele momento.
Após se aposentar do programa espacial em 1969, Anders trabalhou extensivamente na indústria aeroespacial durante várias décadas. Ele também serviu como embaixador dos Estados Unidos na Noruega por um ano na década de 1970.
Charles Duke (Apollo 16) – Restam apenas quatro pessoas vivas que efetivamente caminharam na Lua: Charlie Duke é uma delas. Ele fez isso aos 36 anos, tornando-se a pessoa mais jovem a pisar na superfície lunar. Em uma entrevista posterior à BBC, ele falou sobre o “terreno espetacular”. “A beleza disso… o forte contraste entre a escuridão do espaço e o horizonte da Lua… nunca esquecerei. Foi tão dramático.”
Mas ele já havia desempenhado outro papel importante na exploração da Lua pela Nasa. Depois que a Apollo 11 pousou em 1969, foi Duke, na central de controle, quem esperou do outro lado da linha até Neil Armstrong disse: “Houston, aqui fala Base Tranquilidade. A Águia Pousou”. Duke respondeu: “Entendido, Tranquilidade. Nós copiamos você aqui na Terra, tem um monte de caras prestes a ficar azuis, mas estamos respirando de novo”. “Eu estava falando sério, estava prendendo a respiração no último minuto”, disse ele à BBC.
Em 2022, Duke disse à BBC que estava entusiasmado com a missão Artemis da Nasa, mas alertou que não seria fácil para a nova geração de astronautas. “Eles escolheram as proximidades do Polo Sul para o pouso, porque se houvesse gelo na Lua, seria naquela região. Será difícil, porque lá embaixo é muito difícil. Mas vamos conseguir.”
Charlie Duke agora vive nos arredores de San Antonio, Texas, com Dorothy, com quem é casado há 60 anos.
Fred Haise (Apollo 13) – Fred Haise fazia parte da tripulação da Apollo 13 que escapou por pouco de um desastre em 1970, depois que uma explosão a bordo fez com que a missão fosse abortada quando a espaçonave estava a mais de 320 mil quilômetros da Terra.
O mundo inteiro assistiu enquanto a Nasa tentava trazer a espaçonave danificada e sua tripulação de volta em segurança. De volta à Terra, Haise e seus companheiros de tripulação James Lovell e Jack Swigert tornaram-se, para a sua surpresa, celebridades. “Sinto que talvez tenha perdido alguma coisa enquanto estava lá”, disse ele ao apresentador de talk show Johnny Carson quando a equipe foi entrevistada no programa de televisão americano The Tonight Show.
Haise nunca chegou à Lua. Embora ele tivesse sido confirmado como comandante da Apollo 19, a missão foi cancelada devido a cortes no orçamento, assim como todos os outros voos após a Apollo 17. Mais tarde, ele foi piloto de testes do protótipo do ônibus espacial Enterprise.
Como muitos de seus colegas do programa Apollo, depois de deixar a Nasa, Haise continuou trabalhando na indústria aeroespacial até se aposentar.
James Lovell (Apollo 8, Apollo 13) – Lovell, Borman e Anders fizeram história quando participaram da primeira missão lunar na Apollo 8, testando o Módulo de Comando/Serviço e seus sistemas de suporte de vida em preparação para o pouso subsequente da Apollo 11. Na verdade, sua espaçonave fez 10 órbitas ao redor da Lua antes de voltar para casa.
Lovell deveria então ser o quinto humano a caminhar na superfície lunar como comandante da Apollo 13, mas isso nunca aconteceu. Em vez disso, a história do acidente envolvendo a missão foi imortalizada no filme Apollo 13, no qual ele foi interpretado por Tom Hanks.
Após sua aposentadoria da Nasa em 1973, Lovell trabalhou na indústria de telecomunicações. Marilyn, sua esposa há mais de 60 anos, que se tornou o centro das atenções da mídia durante o incidente, morreu em agosto de 2023.
Jim Lovell é um dos três homens que viajaram à Lua duas vezes e, após a morte de Frank Borman em novembro de 2023, ele se tornou o astronauta mais idosos ainda vivo.
Harrison Schmitt (Apollo 17) – Ao contrário da maioria dos astronautas da época, Schmitt não serviu na Força Aérea dos Estados Unidos. Geólogo e acadêmico, ele instruía inicialmente os astronautas da Nasa sobre o que procurar durante suas viagens geológicas lunares antes de se tornar um cientista-astronauta em 1965.
Schmitt fez parte da última missão tripulada à Lua, a Apollo 17, ao lado do comandante Eugene Cernan, um dos últimos dois homens a pisar na superfície lunar, em dezembro de 1972.
Depois de deixar a Nasa em 1975, ele foi eleito para o Senado dos Estados Unidos por seu estado natal, o Novo México, mas cumpriu apenas um mandato. Desde então, ele trabalhou como consultor em diversos setores, além de continuar na academia. Ele também é conhecido por se manifestar contra o consenso científico sobre as mudanças climáticas.
David Scott (Apollo 15) – David Scott, comandante da Apollo 15, é um dos quatro homens ainda vivos que andaram na Lua, mas também foi um dos primeiros a dirigir nela. Em 1971, Scott e seu companheiro de tripulação James Irwin testaram o Lunar Roving Vehicle (LRV), um dispositivo que foi responsável por colocar “as primeiras rodas do homem na Lua”.
Viajando a velocidades de até 12 km/h, o LRV permitiu que os astronautas viajassem grandes distâncias muito mais rápido do que se tivessem caminhado. “Em uma primeira missão você nunca sabe se vai funcionar”, lembrou. “A maior emoção foi retirá-lo, ligá-lo e fazê-lo realmente funcionar.”
Após retornar da Lua, Scott ocupou vários cargos de gestão na Nasa, antes de ingressar no setor privado. Ele também atuou como consultor em vários projetos de cinema e televisão, incluindo Apollo 13 e a minissérie da HBO From The Earth To The Moon.
Thomas Stafford (Apollo 10) – Como comandante da Apollo 10 em maio de 1969, Tom Stafford liderou a missão de teste final do programa antes do pouso planejado da Apollo 11. Nessa missão, Stafford e o piloto Eugene Cernan se tornaram a primeira tripulação a tirar o módulo lunar da órbita da Terra.
Pouco depois de seu retorno, Stafford foi nomeado chefe do Escritório de Astronautas, cargo que ocupou por quase dois anos. Em 1975, foi o comandante da Nasa do voo do Projeto de Teste Apollo-Soyuz, a primeira missão espacial conjunta entre os Estados Unidos e a então União Soviética (URSS), precursora da Estação Espacial Internacional. Seu homólogo soviético, Alexey Leonov, tornou-se um amigo para toda a vida.