Anselmo Brombal – Jornalista
O mundo não é mais o mesmo, e faz algum tempo. Aos poucos, tudo foi se modificando. Para pior. Os valores são outros, a prioridades idem. Nosso deus agora é o dinheiro. Ou o celular de última geração. Trabalhar não é mérito – para alguns, até vergonha. E tudo o que era vergonhoso há alguns anos (não muitos) agora é normal.
Não posso falar de outros países, então vou me ater ao nosso. Esculhambado por maus políticos, ajudados por ignorantes que os elegem. Povo ignorante, que não pensa. Povo com sangue de barata, que não reage a nada. Povo que não estuda e que prefere viver à custa das bolsas-migalhas dadas pelo governo.
Economicamente estamos fodidos. Dólar a sete reais. Carnes, frutas, tudo com o preço nas alturas. Durante o governo Sarney os supermercados usavam uma maquininha para colocar etiquetas de preços nas mercadorias à vista da clientela. Hoje fazem isso durante a noite. Talvez até os donos de supermercados tenham vergonha de seus preços.
Carros “populares” custando mais de cem mil reais. Gasolina a seis reais o litro. Fraudes de todos os tipos em postos de combustíveis. E a Agência Nacional de Petróleo tem 30 fiscais para olhar por todos os postos do país. Botijão de gás custando mais de cem reais, fora a taxa de entrega. E há previsões de novos aumentos para janeiro, como o pão e o café.
Moralmente estamos mais fodidos ainda. Hoje é normal ser corno. Em algumas cidades, existem até clubes de cornos. Nas cidades mais moderninhas, casas de swing – onde o sujeito leva a mulher para ela dar pra outro. Na cara. E ainda o corno diz que isso fortalece seu casamento.
A criminalidade está tão em alta que não há cadeia para todo mundo. Quando há, é o preso que manda, não o policial. Cadeias estão dominadas por facções, como o PCC e o Comando Vermelho. E tudo isso é normal. E pelo jeito é bom ir pra cadeia – quatro refeições por dia garantidas, serviço de quarto, mais segurança do que em casa e ainda um auxílio-reclusão para a família. Bem maior que o salário-mínimo pago ao trabalhador. Normal também.
Temos um general preso sem inquérito, sem provas, e pior, sem qualquer reação dos fardados. E temos um ex-governador carioca, Cabral, condenado a mais de 900 anos de cadeia pela roubalheira, solto e passeando nas praias da pior cidade do mundo, o Rio de Janeiro.
Nossos ministros do STF devolveram tudo – dinheiro e outros bens – aos condenados pela Lava Jato. Quando condenados, fizeram acordos com a Justiça e devolveram parte do que foi roubado. Devolver foi uma confissão de roubo. Mas agora nossa Justiça devolveu tudo, como se nada houvesse acontecido. Só faltou aos ministros pedir desculpas aos empreiteiros condenados na Lava Jato.
Um presidente analfabeto, maldoso, vingativo e confesso consumidor de cachaça. Consumo exagerado, bem entendido. Normal. A bebedeira está incorporada ao hábito palaciano, em palácio onde quem manda é a mulher do presidente, e não ele. Mulher vulgar, deslumbrada, cafona e com ares de quenga. Que não mede esforços para gastar o dinheiro do trabalhador. E, na época, achávamos que não haveria coisa pior que a mulher do Collor…
Maconha está na moda, e foda-se quem a fuma. Até 40 gramas, decidiu nosso STF, é consumidor e não traficante. O tráfico tomou conta de tudo. As biqueiras são conhecidas, funcionam 24 horas. Mas a Polícia não consegue enxugar tanto gelo. Quando prende, a Justiça solta. Tudo normal.
Bonito hoje é andar de calça rasgada, fumar maconha, ser corno, andar com motocicleta barulhenta e ouvir os grunhidos da Mc Pipoquinha e outros animais que povoam o universo funk. Poucos sabem cantar Hino Nacional. Pouquíssimos. E o que seria vergonha, virou normal: jogadores estrangeiros, como Gustavo Gomes e Flaco Lopes, já foram flagrados cantando o nosso hino antes de partidas oficiais de futebol.
Essa caótica situação pode ser resumida: nosso país está um verdadeiro pau-no-cu.