quarta-feira, 12 março, 2025
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Nuvem passageira

Anselmo Brombal – Jornalista

Em 1976, Hermes Aquino lançou a música “Nuvem Passageira”, que fez muito sucesso, sendo inclusive parte da trilha sonora da novela “O Casarão”. A música teve até versões em inglês e espanhol e mereceu também inúmeras paródias. Seu início serve para os dias de hoje: Eu sou nuvem passageira, que com o vento se vai…
Nos últimos tempos, só tivemos nuvens passageiras. A atriz Fernanda Torres é o exemplo mais recente. Quando o filme “Ainda estou aqui” apareceu com a pretensão de ganhar o Oscar, só se falava em Fernanda. Apresentadores de rádio e TV, jornalistas (principalmente os da esquerda festiva) pareciam babar pela atriz. Não se falava em outro assunto.
Passou. Como a nuvem do Hermes Aquino, foi embora. Desmanchou-se. Hoje poucos tocam no assunto. A maioria desses poucos é formada por fanzocas deslumbrados. “Caneta Azul” é outro exemplo. Seu autor é Manoel Gomes, que até ter toda essa brilhante inspiração era vigilante. Hoje está esquecido. Ou lembrado como mau exemplo.
Prometi desistir de política, mas esse merece menção: Eymael. Advogado e político, foi candidato a tudo. Conseguiu ser deputado federal de 1986 a 1995. E só. Seu jingle de campanha era música-chiclete. E até hoje a única coisa que se sabe de Eymael é que ele era um democrata cristão. Também passou.
Outro modismo (ou nuvem passageira) foi o celular estilo tijolo, da Motorola, em seus primórdios. Pesava muito, mas quem tinha fazia questão de prendê-lo na cintura. Ostentação pra valer. Depois os aparelhos foram ficando menores e mais eficientes. Nem tanto. Houve modelos que cabiam na palma da mão, e de tão pequenos, dificultavam a comunicação. Também passou. Os celulares voltaram a ter um tamanho decente.
Na época da novela “Dancing Days” a mulherada fazia questão de usar meias Lurex. Brilhantes demais. Chamativas. Também passou. Assim como passaram as calças boca-de-sino, de cintura alta, os saltos carrapeta, e aqueles cinturões enormes que mais pareciam barrigueira no arreio de um cavalo.
O que não passa é a ignorância, que só aumenta. Comuns são os anúncios de “promoções imperdíveis que você não pode perder”. Bem, se são imperdíveis… Imobiliárias (sempre elas) anunciam casas e apartamentos com 02 dormitórios. Dá vontade de ir até essas imobiliárias e dizer que quero comprar 01 apartamento. Ou pedir prazo para resolver se compra ou não compra: preciso de 03 dias para pensar… Por que o zero?
Falamos de ignorância? Então vamos lá. Todo mundo já ouviu entrevista de jogador ou técnico de futebol no intervalo do jogo. O sujeito diz com a maior naturalidade: agora vamos correr atrás do prejuízo. Eu correria do prejuízo.
Ignorância e deslumbre. Nos séculos 18 e 19, paulistanos ricos passeavam pelas ruas da Capital trajando ternos ingleses. Terno: calça, paletó e colete; calça e paletó é costume. E esses ternos ingleses eram de lã, usados sob o sol de 40 graus. Também passou.
E chega. A nível de conhecimento, vou estar lembrando de outras pérolas. E rezar para que venham mais ventos. E que esses ventos levem certas nuvens para bem longe.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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