Anselmo Brombal – Jornalista
A TV Globo promoveu, dias atrás, um show para comemorar seus 60 anos. Não se discute o gosto musical, o enredo da patifaria. Mas questiona-se a omissão de pessoas. E esconde-se a realidade do nascimento dessa rede de televisão. A história não é tão longa, mas cheira um enredo mafioso.
Nos anos 1960, o empresário Victor Costa havia criado a TV Paulista, canal 5 (tempos do (VHF). Ele já tinha diversas emissoras de rádio, inclusive a Nacional de São Paulo. Victor era inovador, e trouxe para São Paulo cantores e humoristas que faziam sucesso no Rio de Janeiro, então capital da república.
Em 1955 conseguiu a TV Paulista. A emissora tinha pouquíssimos recursos e era prejudicada pela popularidade e estrutura da TV Tupi e TV Record. Com a chegada de Victor, a TV Paulista se transformou. E criou programas de sucesso como “Teledrama Três Leões” e “Hit Parade”.
E com o tempo, a organização de Victor Costa passou a criar novas emissoras de TV, como a TV Santos, a TV Bauru e uma emissora no Recife. Chegou a obter uma concessão para ter outro canal em São Paulo, o 9, que no entanto foi vendida, antes mesmo da emissora ser inaugurada, para um grupo de empresários que manteve o nome escolhido pelos donos originais da concessão, TV Excelsior.
Em 1964 houve a tomada do poder pelos militares, a tal revolução. O jornalista Roberto Marinho, dono do jornal O Globo e de emissoras no Rio de Janeiro, apoiou os militares já na primeira hora. Por suas ideias e posicionamento, Victor Costa era um incômodo aos militares.
Em 1965, o governo militar forçou a “venda” da TV Paulista, canal 5, para Roberto Marinho. Pelo que se sabe, Costa nunca viu a cor do dinheiro. O plano dos militares era montar uma rede de televisão de alcance nacional, e assim divulgar sua política. Roberto Marinho se prestou ao papel. E Victor Costa ficou a ver navios. Assim nasceu, ou foi parida a fórceps, a Rede Globo.
No campo das lembranças, a maior omissão desse show de 60 anos, foi Walter Clark. Ele foi o único responsável pelo crescimento da rede. Clark foi contratado por Marinho em 1965, mesmo ano em que “garfou” a TV Paulista, e se tornou diretor geral. No ano seguinte, Walter Clark deu os primeiros sinais que entendia de audiência. Mandou a TV, no Rio de Janeiro, ficar no ar durante três dias noticiando e ajudando os cariocas durante uma grande enchente na cidade.
Em 1967, Clark trouxe para a Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Clark criou o Jornal Nacional, o Fantástico, o Globo Repórter, Festival Internacional da Canção, Globo de Ouro e prestigiou a produção de novelas e contratação de grandes artistas. Responsável pela área comercial, levou muito dinheiro à Globo, e com Boni criou um padrão de qualidade.
Com o tempo, Roberto Marinho passou a invejar a popularidade de Walter Clark – para muitos, ele era o verdadeiro dono da emissora. Marinho tinha inveja também do estilo de vida de Walter Clark, que ganhava muito dinheiro graças às comissões de anúncios que levava para a Globo. Clark foi demitido por Marinho em 1977. Depois disso, produziu alguns filmes e ficou um ano na TV Bandeirantes. Walter Clark morreu em março de 1997 de insuficiência cardíaca, enquanto dormia.
Essas histórias a Globo ficou devendo. Mas manteve seu padrão de mentiras.