Ao menos 464 milhões de jovens — quase meio bilhão — terão obesidade ou sobrepeso até 2030 no mundo. É o que aponta uma nova projeção internacional, publicada na terça-feira (20) pela comissão sobre saúde e bem-estar de adolescentes da revista The Lancet. Além disso, mais de um bilhão de adolescentes poderão enfrentar outras ameaças diárias à saúde, como HIV/Aids, gravidez precoce, depressão e má nutrição.
O estudo reuniu dados de saúde de jovens entre 10 e 24 anos em mais de 180 países, comparando as tendências atuais com as de 2015 e projetando cenários até o fim desta década. O salto de 143 milhões de casos de sobrepeso e obesidade em apenas quinze anos sinaliza um “ponto crítico” para a saúde dessa faixa etária, segundo os especialistas da comissão.
Dados por continente
Na América Latina e Caribe, Norte da África e Oriente Médio, mais de um terço dos jovens de 10 a 24 anos já convive hoje com excesso de peso, o que torna essas regiões foco de preocupação.
No Brasil, o último Atlas Mundial da Saúde aponta que 15,58 milhões de pessoas de 5 a 19 anos estavam convivendo com excesso de peso em 2020. Nesta semana, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou nova regra que reduz para 14 anos a idade mínima para cirurgia bariátrica, em resposta ao aumento de demanda por tratamentos de redução de peso nessa população.
O relatório também adverte que, se nada for feito, 1,9 bilhão de adolescentes estarão expostos aos impactos do aquecimento global até 2100 — com doenças relacionadas ao calor extremo, insegurança alimentar e escassez hídrica. Paralelamente, a saúde mental desse grupo entrará em colapso gradual: os casos de depressão, ansiedade e outros transtornos passarão de 40 milhões para 42 milhões até o final da década, 2 milhões a mais do que em 2015.
Apesar do crescimento alarmante dessas doenças e condições, o financiamento internacional dedicado à saúde dos adolescentes permanece ínfimo: entre 2016 e 2021, apenas 2,4% dos recursos de assistência ao desenvolvimento foram direcionados a essa faixa etária, que representa 25,2% da população mundial.
Para os autores do relatório, essa disparidade evidencia a necessidade de adoção imediata de políticas públicas focadas em prevenção, diagnóstico precoce e acesso a tratamentos.
O documento finaliza com um chamado às autoridades globais e governos nacionais para que a saúde dos adolescentes seja elevada ao patamar de prioridade — seja por meio de campanhas de conscientização, investimentos em infraestrutura escolar saudável, combate ao mosquito da dengue e Aedes aegypti, fortalecimento dos serviços de saúde mental e adoção de medidas de mitigação das mudanças climáticas.