Anselmo Brombal – Jornalista
Meu pai, José Brombal (que agora é padre) está em sua temporada de comemorar 98 anos de idade. Vez ou outra faz planos para quando chegar aos 100. Digo temporada porque seu aniversário é uma espécie de tríduo natalício – nasceu no dia 14 de agosto, mas só foi registrado no dia 16. Então são três dias para comemorar – sem bolo, sem festa. Há quase 100 anos, as coisas eram bem diferentes.
Filho mais velho de Maria e Anselmo, nasceu na Fazenda Santa Gertrudes, da família Queiroz Telles, em Vinhedo, na época Distrito da Rocinha, que pertencia a Jundiaí. Criança ainda, foi trabalhar na roça, limpando as ruas de café. Coisa comum na época. Mais tarde (1940), meu avô veio para a cidade. Ele foi trabalhar na indústria Pelliciari, que fabricava cadeiras. Meu pai se empregou na Porcelana São Pedro, empresa que havia sido fundada por João Ferrara.
Foi para o Exército, onde serviu como soldado e depois, por concurso, foi promovido a cabo. Na época, o grupo passava por transição – deixava de ser Artilharia de Dorso e passava a se chamar 2º Grupo de Obuses 155, recebendo o armamento que sobrava da 2ª Guerra Mundial, dado pelos americanos. E coube ao meu pai levar os três últimos burros para o quartel de Barueri. De trem.
A família morava numa casa simples na rua Lestapis. Família: os pais e os irmãos Ana, Luiz, Malvina e Marino, todos já falecidos. Teve outro irmão, Antonio, que morreu muito cedo e que ele não conheceu. Em 1952 casou com minha mãe, Olinda, com quem teve 12 filhos -eu, o Paulo, o Maurílio, o José Carlos, o Plínio e as sete Marias: Cida, Mazé, Conceição, Salete, Graça, Ana e Cláudia. Dos meus irmãos, dois já morreram – Conceição e Plínio.
Em 1958 construiu sua casa na avenida Fernando Arens, e todos se mudaram para lá. Menos sua irmã Malvina, que seguiu para um convento vicentino e tornou-se Irmã Valéria. Outro irmão, Luiz, estudioso e leitor voraz, passou num concurso do Banco do Brasil e foi trabalhar em Foz do Iguaçu (anos depois conseguiu se transferir para São Paulo).
Depois da Porcelana São Pedro, meu pai empregou-se na empresa Fillipini, onde se tornou carpinteiro e marceneiro. Católico fervoroso, integrou a Congregação Mariana na Vila Arens e a Conferência Vicentina, enquando minha mãe estava no Apostolado da Oração. Também fez parte do movimento Cursilhos de Cristandade (De Colores). Posso garantir que nunca vi meus pais discutirem. Nunca
Em 1986 minha mãe morreu, vítima de AVC. Na época diziam que era derrame. E meu pai continuou firme em sua fé católica, até que em 1995, a convite do então bispo diocesano Dom Roberto Pinarello de Almeida, foi ordenado padre. Nunca o chamamos de padre. Para nós é pai. Um pai e tanto.
Passou por diversas paróquias, foi vigário da Catedral e também capelão do Hospital São Vicente de Paulo, e hoje está vivendo na Casa dos Presbíteros, no bairro Corrupira. Sempre que podemos, nos reunimos para o almoço de domingo. Coisa de italianos. Almoço barulhento, mas sem exageros.
Perfeitamente lúcido, e com uma memória de causar inveja, sempre dá conselhos a nós e aos amigos que encontra em suas andanças pela cidade. Aconselha prudência sempre – uma gota de mel apanha mais moscas que um barril de vinagre. Segue a vida, celebrando missas, vez ou outra batizando. Já casou muita gente. E já pensa o que fazer quando chegar aos 100 anos. Certamente um brinde à italiana.
Cento anni!