Os panetones e chocolates devem ficar mais caros neste Natal, impulsionados pela crise do cacau no fim do ano passado e no início de 2025, que elevou o custo do principal insumo. Na Cacau Show, uma das maiores redes de chocolates do país, os produtos tiveram reajuste médio de 10% neste ano.
Em dezembro do ano passado, os preços futuros do cacau na Bolsa de Nova York atingiram seu maior valor histórico, com os contratos de vencimento mais próximo chegando a aproximadamente 12,5 mil dólares por tonelada. Esse foi o segundo pico de preços observado no ano, com o outro acontecendo em abril do mesmo ano. Na sexta-feira, 14, o preço dos futuros do cacau está em torno de US$ 5.400 por tonelada na NYSE.
Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, Lilian Rodrigues, diretora de Marketing da Cacau Show, afirmou que o reajuste aplicado pela marca é considerado modesto diante da forte alta do cacau e faz parte da estratégia da Cacau Show. A executiva diz que a empresa não pretende aderir ao chamado “sabor chocolate”, prática adotada por algumas fabricantes para reduzir o uso de cacau e segurar os preços mesmo com o insumo mais caro.
“Sabemos que teve um impacto com a alta do cacau desde o ano passado, mas praticamente não repassamos isso para o consumidor. Acredito que temos muita clareza de estratégia, sabemos o que não abrimos mão, para nós qualidade é negociável. Então a gente não mudou nenhuma formulação”, explicou.
Lucca Bezzon, analista de mercado da Stonex que acompanha o mercado de cacau, destaca que as empresas compradoras dos subprodutos do cacau, como indústrias de confeitaria e chocolate, estão entre as mais impactadas pela alta de preços desde o início de 2024.
“A manteiga de cacau, em especial, apresentou valorização mais acelerada que a própria amêndoa, atingindo seu pico máximo em meados de 2024, quando os preços chegaram próximos de 40 mil dólares por tonelada nos EUA. Esse movimento só foi possível porque as processadoras de amêndoas conseguiram manter um ritmo de vendas resiliente ao longo do ano, enquanto as indústrias de confeitaria, surpreendidas pelo cenário, continuaram comprando para não interromper suas operações, já que suas formulações dependiam desses insumos”, aponta.
No entanto, segundo Bezzon, muitas empresas passaram a reformular seus produtos e reduzir a dependência desse ingrediente, seja por meio da diminuição do tamanho das barras, do uso de amêndoas ou da substituição parcial por outros óleos, surgindo aí o “sabor chocolate”.
Como consequência, a demanda por manteiga e amêndoas caiu, reduzindo também o volume de moagem, o que explica em grande parte a queda recente dos preços do cacau. Esse movimento parece ter ocorrido primeiro no Brasil, justificando a queda mais acelerada dos preços domésticos, mas já é observado globalmente.
Entretanto, para os consumidores, a tendência é que a queda não faça diferença, ao menos não para este Natal.



