segunda-feira, 8 dezembro, 2025
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Um aniversário de araque

Anselmo Brombal – Jornalista

No próximo dia 14 Jundiaí vai comemorar seu aniversário. Calma, não é feriado. Já foi, mas não é mais. Soarão as trombetas alardeando os 369 anos de história. Mas é um aniversário inflacionado. Na realidade, são somente 160 nos de história. Isso mesmo. Explicando melhor:

Jundiaí foi elevada à categoria de Vila no dia 14 de dezembro de 1656, e nomeada Vila Formosa de Nossa Senhora do Desterro de Jundiaí, desmembrando-se de Parnaíba. Até então era somente um povoado. No dia 28 de março de 1865 foi elevada à categoria de Cidade. Então são 160 anos. Se for levado em conta o ano de 1656, seria o mesmo como contar, para fins de aniversário, os  9 meses que passamos no útero de nossas mães.

Explicada a trombada histórica, vamos ao feriado. Até o começo dos anos 1990, 14 de dezembro era feriado. Assim como 8 de dezembro. Era a morte para o comércio local. Isso porque, nesses dois feriados (8 e 14 de dezembro), o povo ia fazer suas compras na Capital, onde os preços e condições eram melhores.

A estação ferroviária ficava lotada nas primeiras horas da manhã. Todo mundo comprando bilhete para São Paulo, fosse nos trens de subúrbio da EFSJ (chamados de panela de pressão) fosse nos trens rápidos que vinham do interior, pela Companhia Paulista ou pela Ararquarense.

A então estação rodoviária (apelidada de ranchoviária), onde hoje está o Terminal Central do Situ, na Praça das Bandeiras, repetia o cenário. Centenas, talvez milhares de jundiaienses viajando para a Capital para compras. Filas intermináveis nos ghichês. A Viação Cometa, que detinha o monopólio da linha, colocava muitos ônibus extras.

E todo mundo voltava com sacolas cheias. Por aqui, havia poucas opções – Loja Nova, Rei das Roupas Feitas, Jafar, Vencedora, Casa do Bolinha, Buri, Pernambucanas e um tímido comércio nos bairros. Mas essas viagens nos feriados incomodavam o comércio, que tanto fez que conseguiu que fossem abolidos.

Mas Jundiaí não comemora nada, ao contrário de outras cidades, onde o aniversário é algo sagrado. Talvez um discurso ou outro. Seria o que? Vergonha da mentira histórica? E assim, durante anos e anos, fomos ensinados sobre esse aniversário de araque.

Falta coragem para revisar esses enganos. Como também falta coragem para renomear o que hoje é o Espaço Expressa em Complexo Paulista, ou Espaço Paulista. A Companhia Paulista é uma das responsáveis pelo impulso econômico e crescimento da cidade. A outra responsável foi a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí.

Quando inaugurado, o espaço na avenida dos Ferroviários ganhou o nome de Complexo Fepasa – outra barbaridade. A única coisa que a Fepasa fez aqui na cidade, e em todo o estado, foi jogar a pá de cal nas ferrovias.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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