Com uma economia aberta e diversificada, o Brasil possui um portfólio com diferentes oportunidades de investimentos em diversos setores produtivos. De acordo com dados da Agência Brasileira De Promoção de Exportações (ApexBrasil), o país está na 25ª posição do ranking de maiores exportadores globais. Na média, os produtos brasileiros ocupam 1,4% do mercado mundial de importações.
Os bons números vêm principalmente das commodities como soja, milho, açúcar e café e produtos processados, como suco de laranja e proteínas animais. Entretanto, é importante destacar e jogar luz ao tema de que alguns segmentos do agro ainda apresentam menores volumes exportados, mas possuem diferenciais competitivos que agregam alto valor à pauta exportadora. Esse é o caso das bebidas alcóolicas brasileiras, principalmente dos vinhos e cachaças.
“Esses produtos são de altíssima qualidade, mas ainda precisam ser mais conhecidos pelos consumidores internacionais. E é nesse sentido que a ApexBrasil atua, para que os produtos brasileiros conquistem cada vez mais mercados no mundo”, ressalta Alberto Bicca, coordenador do agronegócio da Agência.
Segundo dados do Comex Stat, o mercado de bebidas alcoólicas brasileiras exportou US$ 193 milhões (R$ 937 milhões, nos valores atuais) em 2022. Deste valor, destacam-se as exportações de cervejas (US$ 120 milhões ou R$ 583 milhões ), cachaças (US$ 20 milhões ou R$ 97 milhões) e vinhos (US$ 13,7 milhões ou R$ 66 milhões ).
Rodrigo Mattos, analista sênior de bebidas da Euromonitor, explica este número expressivo da exportação de cervejas em um âmbito mais estratégico, enxergando o Brasil como hub de produção e distribuição industrial em larga escala para países, principalmente, da América Latina. Isso vai na contramão da exportação de cachaças e vinhos brasileiros, por exemplo, que trazem neste número um reflexo de características próprias de qualidade e de produção.
O sommelier e professor do Instituto da Cerveja Edu Passarelli reforça que o Brasil hoje é muito bem visto pelo mercado cervejeiro mundo afora, ganhando concursos e premiações pela qualidade de sua produção. Entretanto, ele destaca que a logística e custos que esta operação de exportação envolvem acabam não favorecendo as cervejarias artesanais, que possuem estruturas menores.
“Diferente do que acontece com o vinho, que é feito em um terroir brasileiro, com características únicas do país, uma mesma cerveja consegue ser produzida em qualquer lugar do mundo. O produto não precisa viajar. Quanto mais jovem e mais fresca, melhor a cerveja é”, explica.
“No Brasil não se tinha produção local em nível de excelência. Hoje, ele é reconhecido mundialmente como grande produtor. Com tecnologia de ponta, o país importa muito menos e produz muito mais. Só que é mais fácil as cervejarias produzirem lá fora do que exportarem. Poucas conseguem fazer isso. Este número expressivo de exportação são de grandes indústrias. As artesanais acabam fazendo mais como posicionamento de marca do que propriamente como uma operação que traga lucro”, completa.
Hoje, o Brasil tem apenas um estilo de cerveja reconhecido como sendo tipicamente do país, a Catharina Sour, feita com frutas brasileiras. A Associação Brasileira da Cerveja Artesanal (Abracerva) tem iniciativas para as cervejas brasileiras serem ainda mais reconhecidas mundo afora. “Estamos em crescimento, mas temos um grande caminho para trilhar”, finaliza Passarelli.
Segundo dados da ApexBrasil, o Brasil é um grande produtor de vinhos, mas exporta atualmente apenas cerca de 2% de sua produção. O cenário, entretanto, tem mostrado um aumento a cada ano em relação ao que é produzido, ao volume e também aos valores exportados.
Em 2020, por exemplo, foram produzidos 230 milhões de litros – este valor subiu para 320 milhões em 2022, de acordo com o relatório OIV. No volume de exportações, por sua vez, o salto foi de 5 milhões de litros em 2020 para 7,7 milhões em 2022. Em valores isso representou um aumento de US$ 8 milhões em 2020 para US$ 13,7 milhões (R$ 66 milhões) dois anos depois, de acordo com a Comex Stat.
São mais de mil vinícolas espalhadas pelo território brasileiro, tendo o sul do país como um dos grandes destaques. O Brasil já soma prêmios internacionais em competições mundo afora e mostra que grandes marcas já estão prontas para abrir novos mercados.
Algumas delas, como a tradicional Casa Valduga, de Bento Gonçalves, já saíram na frente. Recentemente a vinícola anunciou sua chegada à Dinamarca. Ela, que já estava presente em países como Estados Unidos, Austrália, Curaçao e República Tcheca, desembarcou no Velho Continente com seis mil garrafas de diferentes rótulos entre vinhos e espumantes. Um deles foi o 130 Brut Blanc de Blanc, eleito o Melhor do Mundo no Vinalies Internationales, na França, em 2020. Hoje, a marca exporta 5% do total de litros de sua produção.
Eduardo Valduga, enólogo e diretor da Famiglia Valduga, explica que no momento inicial de abertura de mercado do grupo, quase ninguém conhecia o espumante brasileiro – que hoje é mundialmente premiado -, então, os vinhos foram utilizados no primeiro momento com o intuito dos países conhecerem o produto nacional. Hoje, os espumantes são o destaque na exportação da empresa.
“O On Trade (bares e restaurantes) foi o pontapé inicial e até hoje utilizamos para colocarmos nossos rótulos em destaque em outros países. Por exemplo, estamos presentes nos restaurantes Gordon Ramsey no Reino Unido”, explica Eduardo, que revela também os objetivos futuros da Casa Valduga:
“Tanto no mercado interno quando no mercado externo, os planos não são focados em aumento massivo de produção, mas sim, em ser a Vinícola Premium do Brasil. Focamos na qualidade de nossos produtos, buscando inovação, exclusividade e a entrega de produtos elaborados em diferentes terroirs, dentro e fora do Brasil”, conclui.
Para Rodrigo Mattos, da Euromonitor, o Brasil tem se posicionado melhor frente aos concorrentes internacionais não só como uma capacidade produtiva, mas também com uma melhoria de qualidade agrícola – base para todas as produções de bebidas alcóolicas. Ele enfatiza que no mercado de vinhos, o maior desafio é a consolidação da marca no exterior, principalmente por conta da tradição que o produto tem em alguns países.
“Grandes marcas são construídas principalmente com o tempo e história. Vinícolas italianas e francesas têm décadas e décadas de existência, algumas chegando a séculos. Não é tão fácil uma nova marca brasileira chegar e ganhar seu espaço lá fora. Entretanto, o Brasil está bem preparado perante a outros países. Agora, precisamos desenvolver este processo como uma cadeia e agregarmos valor ao que é produzido. É preciso investir mais em associações em conjunto de trabalho para levar os produtos para fora do Brasil”, enfatiza.
Ainda há muito para se fazer, mas passos têm sido tomados neste sentido. Um deles é o projeto “Wines Of Brazil”, feito pela ApexBrasil em parceria com a Uvibra Consevits. Ele tem o objetivo de promover os vinhos produzidos no Brasil no mercado internacional por meio de participação em feiras, realização de eventos promocionais, missões comerciais, estratégias de exportações e outras ações especiais. A viníciola Tenuta Foppa & Ambrosi, do Vale dos Vinhedos, fundada em 2017 no Rio Grande do Sul, por exemplo, vai enviar a primeira remessa da produção de seus vinhos finos para os Estados Unidos ainda este ano com o apoio do projeto.
Essas iniciativas da Agência também são encontradas quando o assunto é cachaça, bebida que vem batendo recordes de exportações ao longo dos últimos doze anos.
Estima-se que o Brasil possui capacidade instalada de produção de Cachaça de aproximadamente 1,2 bilhão de litros anuais, porém se produz anualmente menos de 800 milhões de litros. De acordo com dados da Euromonitor International, atualmente a cachaça é considerada o terceiro destilado produzido localmente mais consumido do mundo, perdendo apenas para a Vodca na Rússia e o Soju coreano.
Em 2022, as exportações do setor deram um salto e bateram o recordes da última década. O valor exportado em 2022 foi de US$ 20,08 milhões (R$ 101 milhões), segundo dados do Comex Stat compilados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), o que representa um aumento de 52,38% em relação a 2021. Em volume, o aumento foi de 29,03%, totalizando mais de 9,3 milhões de litros.
Neste mesmo ano, a bebida foi exportada para mais de 75 países, sendo que os principais destinos (em valor) foram: Estados Unidos, Alemanha, Portugal, França e Itália.
“Apesar do crescimento da exportação de Cachaça estar ocorrendo num ritmo forte, o volume total ainda é pequeno tendo em vista o tamanho do mercado de destilados fora do Brasil que é estimado na escala de bilhões de litros. O sucesso das exportações recordes dos últimos anos é fruto do esforço das empresas que vem investindo no mercado internacional, além de ações estratégicas”, ressalta Vicente Bastos, membro da diretoria executiva do IBRAC.
Uma dessas ações é o projeto “Cachaça: Taste the New, Taste Brasil” resultado de uma parceria da ApexBrasil com o Instituto que tem o objetivo de promover a bebida no mercado internacional. Segundo Bastos, as empresas apoiadas pelo projeto foram responsáveis por pelo menos 65,4% deste valor recorde de exportação.
Há também o programa de qualificação para exportação da cachaça na versão agronegócio, o Peiex Agro Cachaça, que prepara e qualifica as micro, pequenas e médias empresas para venderem seus produtos no exterior.
De acordo com o Anuário a Cachaça de 2021, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o número de registros de Cachaças aumentou 40% entre 2020 (3.533 produtos) e 2021 (4.969 produtos).
Se comparados os números de 2021 com 2019, esse crescimento é de 67%. “Um maior número de produtos registrados implica em um esforço de inovação e diferenciação das bebidas em relação à sua composição e classificação”, enfatiza Vicente.
E essa deve ser uma das bases de estratégias para olhar para o futuro da exportação de bebidas alcóolicas brasileiras: inovação, tecnologia e apostar também no fator “exoticidade”, um dos principais pontos que atraem olhares de fora para os produtos tipicamente brasileiros.
“A grande variedade, considerando a diversidade regional de sua produção, vem proporcionando uma base extensa de experimentação de coquetéis contemporâneos, tanto no Brasil como internacionalmente. É essa quantidade de atributos que faz a Cachaça um destilado distinto dos demais, que vem conquistando espaço e angariando novos fãs no mundo todo”, exalta o diretor.
“Os produtores devem continuar seguindo o caminho da premiunização adotados por outros destilados, principalmente, investindo em novas formas de apresentação dos produtos. Além disso, a utilização de madeiras brasileiras e novos blends também segue como uma tendência para o posicionamento dos produtos”, conclui.
Cachaça, cerveja e vinhos brasileiros conquistam mercado externo
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