O assassinato de um investigador que atuava como motorista de aplicativo fora do horário de serviço para complementar a renda e sustentar a família trouxe novamente à tona os baixos vencimentos pagos pelo Estado de São Paulo. Muitos policiais civis têm de recorrer ao “bico”, ficando expostos, também, à violência, à exaustão e, no extremo, ao suicídio. O alerta é do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp).
O caso recente do policial Fernando José Duarte da Silva, de 41 anos, assassinado fora do horário de serviço, enquanto fazia um trabalho extra, ilustra uma realidade enfrentada diariamente por parte da categoria. Concursado na Polícia Civil bandeirante, ele atuava, paralelamente, como motorista de aplicativo. Após uma corrida, na região do Butantã, na zona sul de São Paulo-SP, em 13/8, ele desapareceu. O corpo foi encontrado dez dias depois, num cemitério clandestino, na Grande São Paulo.
“Além dos desafios já inerentes à profissão de quem atua na Segurança Pública, muitos policiais civis enfrentam a difícil realidade de buscar meios adicionais para sustentarem suas famílias, em razão das dificuldades financeiras pelas quais passam. São, então, submetidos a uma dupla jornada. Assim, sacrificam, também, o convívio com a família e até a sanidade mental”, lamenta a presidente do Sindpesp, a delegada Jacqueline Valadares.
Para ela, essa realidade exige medidas urgentes: “É preciso que os profissionais da Polícia Civil recebam pagamento digno e condizente com a responsabilidade e o risco da atividade-fim. Desta maneira, poderão deixar de lado os ‘bicos’”, pondera.
Dados da 17ª edição do Anuário de Segurança Pública de 2023 apontam que policiais morrem mais durante a folga do que em confrontos no serviço. Em 2022, em todo o País, 173 policiais foram assassinados. Deste número, sete a cada dez morreram na folga. O número de suicídios também é alto.
A pesquisa não especifica quais casos ocorreram durante o “bico”, mas cita outras atividades laborais como fator de risco e morte: “Há tempos, o Sindpesp alerta o poder público de que é imprescindível ações concretas para a valorização e a recomposição salarial dos profissionais que dedicam suas vidas para proteger a população, para que estes não precisem se arriscar e se cansar em atividades paralelas; para que possam trabalhar com mais tranquilidade e qualidade de vida”, pondera Jacqueline.
Apesar do acréscimo médio de 18% nos vencimentos dos quadros da instituição (válidos a partir deste mês), os delegados de São Paulo, por exemplo, continuam figurando entre os mais mal pagos do País. O salário inicial bruto de R$ 15.037 faz com que o estado mais rico do Brasil amargue o 22º lugar entre as 27 unidades da federação.
Sindpesp: Com baixa remuneração, policiais civis ficam expostos
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