O coordenador pedagógico da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, Renato Dias, foi exonerado após a crise de materiais didáticos que se arrasta desde o início de agosto. Dias é um dos fundadores da Camino School, escola particular trilíngue na capital, e ex-diretor da Somos Educação, um dos maiores grupos privados do País.
Sua saída se deve principalmente aos erros encontrados no material didático próprio do governo, enviado para as escolas por meio de slides. Dias era considerado um homem de confiança do secretário Renato Feder e o número 2 na secretaria, já que era o responsável por toda área pedagógica.
Entre os erros encontrados no material digital produzido pelo governo estão problemas de informações históricas, geográficas e de Matemática. Havia textos que localizavam a cidade de São Paulo na praia, informavam que a Lei Áurea, de abolição da escravidão, não foi assinada pela Princesa Isabel, e que uma divisão de 36 por 9 tem 6 como resultado.
Os materiais digitais, com aulas organizadas em slides de Power Point, que precisam ser dadas com computador, TV e internet, são a aposta do secretário Feder na atual gestão. Ele chegou a desistir de receber os livros enviados pelo Ministério da Educação (MEC) em agosto, mas após forte repercussão negativa, recuou da decisão.
Em entrevista ao Estadão, ao justificar a recusa de 10 milhões livros didáticos, Feder disse que “a aula é uma grande TV, que passa os slides em Power Point, alunos com papel e caneta, anotando e fazendo exercícios”.
Como o Estadão mostrou, só 1.953 (39%) das 5,3 mil escolas estaduais têm wi-fi, computadores e outros equipamentos para atender a maioria das turmas. A informação está no Plano Plurianual do governo do Estado, apresentado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) há 15 dias, que explicita as metas do governo entre 2024 e 2027.
Segundo o Estadão apurou, o próprio Dias entendeu que era preciso deixar o cargo para estancar a crise. Em nota, a secretaria da educação disse que “Renato Dias deixou o cargo para assumir projetos pessoais” e que a exoneração foi “a pedido”.
Quem assume o lugar é Bianka de Andrade Silva, que teve experiências como professora da rede pública de Minas Gerais, mas também forte atuação na rede privada. Ela foi gerente de currículo e avaliação da Escola Mais, instituição privada direcionada à classe C, e gerente de produtos digitais na Arco Educação, que vende plataformas e ferramentas tecnológicas educacionais. Foi ainda coordenadora pedagógica de currículo e avaliação da Somos Educação. Ela será agora a responsável pela Coordenadoria Pedagógica (Coped) na secretaria.
Uma da críticas com relação à gestão de Feder era de que ele havia se cercado somente de profissionais que vinham da iniciativa privada, assim como ele mesmo, que era empresário da área de tecnologia. A rede estadual paulista é a maior do País, com mais de 3 milhões de alunos.
Feder tem ainda como número 2 na área de gestão, o secretário executivo Vinicius Neiva, que foi auditor federal de finanças e controle da Secretaria do Tesouro Nacional e trabalhou com o atual secretário quando ele era titular da pasta no Paraná.
Após os erros nos materiais terem vindo à tona, Feder chegou a dizer que afastou servidores, mas segundo o Estadão apurou, ninguém havia sido demitido ainda.
Cai coordenador pedagógico de São Paulo, após erros em livros didáticos
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