segunda-feira, 25 novembro, 2024
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Após 11 anos, Gabriel o Pensador lança novo disco

As rimas afiadas, o sotaque marcante e o rap limpo de Gabriel o Pensador conquistaram o Brasil há mais de 30 anos. Porém, a última vez que os brasileiros puderam curtir um álbum completo do artista foi em 2012, com o lançamento de Sem crise. Durante 11 anos, o público aproveitou da música de Gabriel a conta gotas, com singles esparsos. Porém, o artista fez a vontade dos fãs e está de volta com o álbum Antídoto pra todo tipo de veneno.
O novo disco, dividido em 11 faixas, marca o novo momento da carreira de Gabriel o Pensador. As faixas passeiam pelas batidas à moda antiga, o chamado old school, mas chegam aos beats de trap, levadas de banda e se aventura até no rap. O que há de novo também tem o antigo presente. “E esse é um Gabriel meio novo, tem uma onda diferente, mas é difícil destacar o velho Gabriel das novas experiências ali, porque fica meio misturado, acho que no fundo é uma mistura boa”, reflete o músico em entrevista.
A ideia de fazer o álbum surgiu de uma crença de que o mercado tem aceitado melhor trabalhos longos novamente, após uma onda de preferência pelos singles. “Na época do meu último disco, eu tinha a sensação de que morreu um formato, o físico, e com isso parece que tinha morrido o conceito de álbum. Na período, acho que nós todos percebemos um pouco isso. Agora, é música digital, acabou o álbum, mas eu acho que a gente se adaptou agora ao álbum digital, entendeu que existe o álbum digital”, explica o raciocínio.
No momento em que percebeu a possibilidade, decidiu que, com calma, trabalharia em um novo álbum um trabalho com corpo, sem a pressa de lançar. “Dali para frente, eu me vi acumulando muitas letras, ideias de que eu gostava, e não sei qual foi o momento de eu falar agora vai ser um álbum, mas eu tive um embrião desse álbum desde o princípio”, lembra.
O disco não tinha essa urgência, mas o ímpeto criativo era de abrir o verbo, de colocar para fora o que apodrecia Gabriel por dentro. “Isso são desabafos de coisas que eu aprendi ao longo dos anos e que têm mexido comigo nos últimos anos, de ingratidão, de trairagem. Eu consegui desabafar algumas coisas nesse sentido aí no álbum”, explica. “A minha luta acho que é não perder em situações ruins, é não perder a fé em que a gente deve continuar sendo bom e fazendo o melhor para o próximo, para os outros, para o estranho”, complementa.
Por esse motivo o nome surgiu nas rimas da faixa Liberdade: Antídoto pra todo tipo de veneno. “A gente às vezes tem que se esforçar para lembrar do antídoto para todo esse veneno. O antídoto também está aí, está dentro de nós, está também no próximo, está na pessoa boa que te cerca, nas pessoas boas que existem que você não conhece, mas que você, de repente, está focando no que tem de pior, olhando e se espantando com o que tem de pior”, analisa. Foi vendo o mundo que surgiram na cabeça do rapper as críticas que ele faz no álbum. “Não só em histórias pessoais, mas observando toda a podridão do mundo, da humanidade, toda a idiotice natural que aumenta proporcionalmente a inteligência artificial”, recorda.
Muito envenenou o trajeto. “Eu perdi meu pai, a gente passou por uma pandemia, a gente vê a desigualdade, a intolerância, a violência, a hipocrisia aumentarem. Para mim, na minha opinião, tudo isso tem aumentado. A indiferença com os problemas alheios”, conta Gabriel. Porém o disco foi o lugar onde ele encontrou a forma de expurgar esse veneno todo. ” Eu acho que a gente tem uma ferramenta importante. A música que é a palavra. O microfone, a poesia. Seja como for. Eu valorizo muito. Eu respeito muito. Esse espaço que a gente tem para poder trazer coisas boas para as pessoas. Não só sempre papo cabeça, a minha música também é para divertir, para fazer sorrir, para emocionar, para dançar. Mas que seja coisa boa. Que faça bem. Que traga boas energias. E eu sei que também traz boas reflexões”, reflete.
Portanto, para a pergunta “Este disco foi um antídoto para todo o veneno?” a resposta do artista foi: “Sim. Para mim, foi muito”.
Um fato especial destaca o novo trabalho do Pensador. O músico volta atrás para se encontrar no agora. Com isso, uma música retorna para um segundo ato. O álbum traz no repertório Cachimbo da paz 2, uma continuação do sucesso de 1997. Com Lulu Santos retornando para o refrão e a adição de Xamã, artista de origem indígena que tem uma relação antiga com a primeira versão. “Sou Gabriel o Pensador desde a sexta série”, canta o rapper na música. Isso, porque ele fez um trabalho de escola sobre a música e se apaixonou pelo trabalho de Gabriel desde então.
Fatos como os contados por Xamã elevam a forma como Gabriel o Pensador percebe a própria trajetória. “As pessoas trazem muitas histórias de motivação, de compreensão e de autoconhecimento. Eles dizem que teve um toquezinho de certas letras minhas e de certas músicas. Que isso ajudou, inspirou. Então, isso tudo me dá muito gás para continuar e para fazer”, afirma o rapper que lembra de se interessar por ouvir causos desde antes de se envolver com a música. “Eu sempre conversei com estranhos. Sempre ouvia as histórias dos outros. Eu sempre gostei disso. Das crônicas da vida, das crônicas da vida real. E essas que envolvem minhas músicas. Me chamam a atenção demais”, comenta.
Por ser ligado ao público, cantar sobre fatos que ocorreram em shows, discutir sobre a vida no Maracanã e tentar falar uma língua entendida por diversas classes sociais e gerações, o rapper rejeita o lugar de cult ou de medalhão. Ele se sente eternamente começando. “Esse lance de cult, eu nem lembro disso. Porque parece que eu estou começando. Eu gosto tanto de fazer show e literalmente me arrepio. Um show sim, um show não”, confidencia. “A gente olha para trás com uma satisfação por tudo que rolou e percebe que agora não é muito diferente de quando eu comecei mesmo”, completa.
A única diferença é que, com mais de 30 anos de carreira, a responsabilidade é fundamental para continuar conversando com gerações. “E é por isso que eu também levo com muita responsabilidade. O que eu faço, tento fazer o melhor possível em todos os sentidos. Na qualidade, na clareza do que eu quero passar e no propósito, principalmente no propósito”, conclui.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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