quinta-feira, 5 dezembro, 2024
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Adoçantes não são eficazes no controle do peso, diz OMS

Em nova diretriz, agência também desaconselha o uso de produtos como aspartame e estévia para reduzir risco de doenças crônicas

Diante da epidemia de sobrepeso e obesidade, o uso de adoçantes dietéticos não nutritivos está em alta nos países ocidentais. Porém, uma nova diretriz da Organização Mundial da Saúde não recomenda esses produtos para controle do peso corporal ou redução do risco de doenças crônicas. Segundo Francesco Branca, diretor de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS, a decisão baseia-se em uma revisão sistemática de estudos científicos que não encontraram benefícios a longo prazo na redução da gordura em adultos e crianças.
No Brasil, não há dados oficiais sobre o consumo dessas substâncias. Já nos Estados Unidos, em 10 anos a ingestão aumentou 200% em crianças e 54% em adultos, de acordo com um artigo publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics.
Além disso, a OMS afirma que os resultados da revisão sugerem efeitos colaterais do uso prolongado dos adoçantes, como risco aumentado de diabetes 2, doenças cardiovasculares e mortalidade precoce em adultos.
“As pessoas precisam considerar outras maneiras de reduzir a ingestão de açúcar, como consumir alimentos naturalmente açucarados — por exemplo, frutas e bebidas sem açúcar”, disse Branca, em nota. “Adoçantes não nutritivos não são fatores dietéticos essenciais e não têm valor nutricional. As pessoas devem reduzir completamente a adição de doçura na dieta, começando cedo na vida, para melhorar a sua saúde.”
Segundo a OMS, a diretriz é voltada a todas as pessoas, exceto pacientes de diabetes. Todos os adoçantes não nutritivos, como aspartame, sacarina, sucralose, estévia e derivados, ciclamatos, acesulfame K, advantame e neotame, estão incluídos, sejam vendidos separadamente ou adicionados a bebidas e alimentos. A recomendação não se aplica a produtos de higiene adoçados artificialmente, como creme dental e medicamentos. Também excluem-se açúcares de baixa caloria.
A OMS reconhece, porém, que as evidências científicas que encontraram associação entre os adoçantes não nutritivos e o risco aumentado de doenças crônicas podem sofrer influência de condições preexistentes ou mesmo de hábitos dos participantes. Por isso, considera a recomendação como condicional, o que significa a necessidade de “discussões substanciais” em contextos específicos de cada país.
“É realmente importante deixar claro que a diretriz não está sugerindo a proibição do uso de adoçantes não nutritivos, pois a revisão científica realizada pela OMS não foi sobre questões químicas ou de segurança, avaliadas separadamente em pesquisas toxicológicas que visam estabelecer limites seguros de ingestão”, ressalta Nita Forouhi, professora de epidemiologia da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ela destaca que outros estudos encontraram uma associação positiva entre o uso dessas substâncias e a perda de peso.
Para a epidemiologista, a diretriz da OMS poderá levar a um padrão alimentar mais saudável, o que exigirá esforços conjuntos. “Traduzir a diretriz em ação demandará uma ação coordenada de muitos atores, incluindo formuladores de políticas, agências de saúde pública, fabricantes de alimentos e, em última análise, também exigirá um certo grau de mudança de comportamento por parte dos indivíduos. O objetivo é reduzir os açúcares livres na dieta, substituindo-os por adoçantes mais saudáveis e naturais, como frutas e alimentos e bebidas não processados ou minimamente processados, que melhoram a qualidade geral da dieta”.
A especialista em medicina preventiva Eunice Zhang, que já foi professora da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e da Universidade de Michigan, sustenta que médicos e formuladores de políticas públicas de saúde devem ser cuidadosos em suas recomendações sobre o uso de adoçantes não nutritivos para pessoas que querem perder peso. “Há evidências crescentes de que esses adoçantes podem alterar processos metabólicos, especificamente no intestino. O uso prolongado desses adoçantes tem sido associado a um maior risco de diabetes tipo 2. Produtos como a sacarina demonstraram alterar o tipo e a função do microbioma intestinal, a comunidade de micro-organismos que vivem no intestino. O aspartame diminui a atividade de uma enzima intestinal que normalmente protege contra o diabetes tipo 2”, enumera.
Além disso, quando a pessoa ingere algo doce, o organismo espera as calorias associadas, diz a médica. “Quanto maior a discrepância entre a doçura e o conteúdo calórico real, maior a desregulação metabólica”, afirma. “Essas descobertas indicam que os consumidores e profissionais de saúde precisam questionar nossas suposições sobre os benefícios para a saúde desses produtos. Adoçantes estão em toda parte, de bebidas a molhos para salada, de biscoitos a iogurte, e devemos reconhecer que não há garantia de que esses produtos químicos não aumentem a carga de doenças metabólicas no futuro.”
Os adoçantes são classificados como naturais e artificiais. Estes últimos são, ainda, divididos entre nutritivos e não nutritivos, dependendo se contêm ou não calorias, respectivamente. Os nutritivos incluem os polióis monossacarídeos (por exemplo, xilitol, manitol e sorbitol) e os polióis dissacarídeos (lactitol e maltitol). Já os não nutritivos, conhecidos como artificiais, incluem substâncias de diferentes classes químicas que são 30 a 13 mil vezes mais doces que a sacarose. Entre eles, estão aspartame, sacarina, sucralose e estévia.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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