Anselmo Brombal – Jornalista
Quem me ouve reclamando pode ter a impressão que sou o inimigo número um das motocicletas. Nada disso. Tenho muitos amigos motociclistas, apesar de nunca ter andado numa moto. Reclamo de barulho, de imprudência, de loucura. Não só de motoqueiros. Há muitos motoristas irresponsáveis e barulhentos também. Gente que deveria ser presa e confinada num Gulag qualquer.
Por mais que me esforce, não consigo entender como alguém consegue – e gosta de – andar em cima de uma motocicleta sem escapamento. Exibição? Prazer pelo barulho? Talvez. Mas minha conclusão é que é falta de encéfalo. Como em toda a indústria, antes de um produto ser lançado, há estudos, testes, pesquisas, cálculos, projetos.
E um Zé Mané qualquer resolve ser diferente. Tira o miolo do escapamento da motocicleta – e aí ela se torna motoca. E ele, de motociclista, passa a motoqueiro. Pilota perigosamente na contramão, em cima de calçadas, sem respeitar sinalização, avançando sinal vermelho e excedendo a velocidade. Assim como há motoristas que rebaixam seus carros, quase colando-os no chão, equipam-nos com potentes aparelhos de som e saem por aí, obrigando os demais cidadãos a ouvirem suas músicas esdrúxulas. E obrigando os demais motoristas a suportar suas manobras esquisitas quando passam com seus carros rebaixados numa lombada ou numa rua esburacada. Só para constar: passar de lado numa lombada compromete o chassis do carro, e se for monobloco, pior ainda.
O mais triste disso tudo é que são impunes. Trafegam tranquilamente, certos de que nada lhes acontecerá. Isso vale para motoristas e motoqueiros. E chego a pensar coisas quando um motoqueiro barulhento passa “rasgando” ao lado de uma viatura policial, sem que nada lhe aconteça.
No caso das motos, há algo mais intrigante. Na Capital, boa parte dos assaltos é feita por motoqueiros. Alguns sem qualquer disfarce. Outros travestidos de entregadores de comida. Motoboys. Todos os dias isso é noticiado na TV, e boa parte dessas notícias é ilustrada com imagens de câmeras de segurança.
Não adianta a Polícia fazer blitzes. Quando faz, pega um ou outro. O primeiro a passar já avisa os demais via celular e quem está irregular não passa mais por aí. Não quero ensinar a Polícia trabalhar, mas não seria mais simples, prático e eficiente anotar as placas e depois a Delegacia de Trânsito intimar o engraçadinho? E se o sujeito vendeu a moto e ela não foi transferida? Não tem problema. Intimado, e na delegacia, vai precisar explicar para quem vendeu e entregar a rapadura.
Em Jundiaí, há algum tempo existe um grupo de amigos. Grupo de Whatsapp, bem entendido. Esses amigos trocam informações sobre tudo, principalmente sobre entregadores de comida barulhentos. E eles têm como norma: se o restaurante mandar entregar com motoboy barulhento, devolve a comida e cancela o pedido.
Chega de reclamar. A “vingança” virá com o tempo. Logo teremos uma geração de surdos.