segunda-feira, 20 maio, 2024
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Reputação das frutas

Anselmo Brombal – Jornalista Em meu tempo de criança, ouvia que chupar manga e depois tomar leite era pedir pra morrer. Hoje a gente sabe que a história é outra. Tem até lanchonete fazendo batida de manga – leite com manga. E por falar em manga, a fruta perdeu a graça. Hoje o mercado oferece dois tipos: a Aden e a Tommy. Totalmente inúteis. Tempo bom era da manga espada, manga Bourbon, manga coquinho. Essa última era a preferida. Toda pintadinha, derretia na boca e deixava a gente com os beiços amarelados. E tinha gente que comia manga verde com sal. Mas a manga é uma das que perderam sua tradição. Ao contrário da banana, cujo nome lhe faz injustiça. A nanica, que deveria ser a menor, é justamente a maior. As demais – banana prata e banana maçã são bem menores. E bem mais caras. Por sinal, costuma-se dar às crianças banana amassada com aveia. E depois não sabem por essas crianças crescem revoltadas. E nem vou falar do abacate, também com aveia. Maracujá passo longe. Prefiro o mousse. Goiaba já era – sempre está bichada. Em minha infância, também, havia ameixas. Davam em cachos, amarelas, deliciosas. Hoje não se chamam mais ameixas. São nêsperas, e custam uma fortuna. Não detesto ameixa. Detesto o dono do supermercado. E tem suas variantes, como a nectarina, que seria um cruzamento de ameixa com pêssego. Pêssego é ouro injstiçado. Agora é só pêssego importado, aguado, quase sem gosto. A não ser os doces, como o pêssego em calda. Por sinal, pêssego dá um belo coquetel: bate-se no liquidificador alguns pedaços de pêssego em calda (já lavados) com champagne e um pouco de leite condensado e gêlo. Experimenta que é bom. Detesto melancia, mas traço um melão inteiro. As laranjas também tem lá suas espécies. A mais comum é a laranja pêra, também bem cara, antes vendida por dúzia, agora por quilo. Há ainda a laranja baiana, que não veio da Bahia, e a laranja lima, a preferida. Menor e mais docinha. Há ainda a lima da Pérsia, aguada, assim como a maçã argentina. Sem gosto, só água. Maçã de verdade é a gala, nacional. Mas hoje há outras, como a Fuji, também sem graça. Morango é bom, mas depende da época. Jaboticaba também. Há outras porcarias no mercado, como a lichia e a pitaya, além da quincan. Nojo! O figo, ao contrário, é ótimo. Até o limão entrou na dança. Limão galego está raro. O que tem no mercado é o Thaiti, o preferido das caipirinhas, e o siciliano. Outro coquetel, ensinado por minha irmã: uma dose de gin, água tônica sem açúcar, fatias de limão siciliano, folhas de hortelã e sementes de zimbro, além de, naturalmente, gêlo. Experimenta. Não acho graça na pêra. É coisa pra bebê. Kiwi, coisa de japonês, era bom para caiprinha de vodca. Era. Hoje o preço do kiwi assusta até o demônio. Jaca comi e não gostei. E até a uva está prostituída. Antes havia uvas brancas e rosadas, ambas Niagara. Hoje tem rubi, Tommy, uva sem semente… e até uva americana, totalmente sem gosto. E cara. Fala-se que é mutação genética, natural. Mentira. É produto de laboratório. E chegamos ao mamão. No mercado sempre há dois tipos – o Formosa e o Papaya. Ambos bem carinhos. Foi-se o tempo em que uma semente perdida, jogada ao acaso, formava o mamoeiro. O bom é que o mamão amadurece depressa, e os supermercados, para não perder tudo, fazem liquidação quando o mamão está chegando no ponto. Abacaxi é outra história, boa demais. E nem vamos entrar em outros méritos. Recentemente descobriu-se que, por um milagre dos céus, oliveiras vão dar uvas. Só não explicaram qual. Enfim… pra quem gosta é um prato cheio.

Anselmo Brombal
Anselmo Brombalhttps://jornaldacidade.digital
Anselmo Brombal é jornalista do Jornal da Cidade
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