Um estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), divulgado na quinta-feira (29), mostra o domínio de um grupo social na disputa por cargos de prefeito e vice na eleição deste ano: a maioria dos candidatos é de homens escolarizados, brancos e ricos. O relatório se baseou em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para traçar os perfis a partir de eixos socioeconômicos.
A análise, feita em parceira com a organização internacional Common Data, utilizou informações sobre gênero, escolaridade e bens particulares. Com esses três pilares, o estudo chegou as seguintes conclusões:
Gênero
Do total de candidatos a prefeito, 65% são homens. Desses, 61,95% são homens brancos e 37,06% são negros. Não indígenas e amarelos somam 0,53%. Para vice-prefeito, segundo cargo mais importante, o percentual de homens brancos registra 57,76% e 41% de negros. Não indígenas e amarelos somam 0.76% Para o cargo de vereador, os homens negros são a maioria com 54,36%. Homens brancos somam 44%.
Escolaridade
O estudo também mostrou que quanto maior o poder político do cargo disputado, maior o nível de escolaridade dos candidatos. Dos que disputam para prefeitura, 58,88% possuem ensino superior completo, enquanto apenas um candidato é analfabeto. Entre os candidatos a vice-prefeito, 46,36% têm ensino superior completo. Já os vereadores, o percentual daqueles com ensino superior completo cai para 26,64%, e há ainda 26 candidatos que se declaram analfabetos.
Bens
A declaração de bens dos candidatos também oferece outra camada de compreensão sobre a desigualdade presente nas eleições, segundo o relatório. Candidatos ao cargo de prefeito declaram, em média, mais de seis bens, com valor médio de R$ 1.812.964,00 cada. O maior número de bens declarados por um candidato foi 351, e o valor mais alto de bens foi R$ 2.851.300,00. Há pelo menos 18 bilionários na disputa.
Os candidatos a vice, em média, declaram 4,37 bens, com valor médio de R$ 1.054.526,00. Para candidatos a vereador, a média é de 1,71 bens, com valor médio de R$ 689.877,00.
Já mulheres negras, por exemplo, independentemente do cargo almejado, declararam R$ 120.251,36 em bens, em média, enquanto homens brancos declararam R$ 1.952.040,36. “Essa discrepância reflete as desigualdades econômicas existentes na sociedade brasileira, associando o poder político à riqueza pessoal de cada candidato”, explica Carmela Zigoni, assessora política do Inesc.
O estudo reforça ainda que no Brasil a maioria da população é composta por mulheres e que existe uma lei que prevê cotas femininas e negras — que está em discussão para ser invalidada.
Números absolutos
As eleições deste ano terão 454.528 candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, enquanto em 2020, por exemplo, foram 557.678 candidaturas. Houve uma redução de 103.150 candidaturas. Neste pleito, o número de candidaturas de pessoas negras (somando-se as pardas e pretas) é mais da metade do total de candidaturas (52,73%), o que equivale a um aumento de 2,8% em relação a 2020. O aumento proporcional, entretanto, não se deve a uma quantidade maior de negros na disputa, mas sim a uma redução na quantidade de candidatos
Enquanto a quantidade de candidaturas brancas caiu 21,34%, a de negros caíram somente 12,77%. Também houve um discreto aumento de mulheres no pleito 0,7% em relação a 2020 e somam 33,96% do total de candidaturas.
Recorde de indígenas na disputa municipal
Pela primeira vez na história eleitoral brasileira, os candidatos as eleições municipais puderam se declarar como quilombolas. A mudança representa um marco significativo para a representatividade desta população. No total, 3.455 pessoas se autodeclararam membros das comunidades remanescentes de quilombos.
Dentre os representantes, 2.141 são homens (61,96%), enquanto 1.314 são mulheres, compondo (38,03%). Este grupo está distribuído por todas as regiões do país, com a maior concentração no nordeste, que abriga 1.242 (35,94%) dos candidatos quilombolas, seguido pelo sudeste, com 982 (28,42%).