A Páscoa dos brasileiros será mais cara neste ano. Os problemas climáticos decorrentes do fenômeno El Niño tiveram impacto sobre diversos setores produtivos, o que elevou os custos para o consumidor final. Nos últimos 12 meses, os preços de boa parte dos itens que compõem o tradicional almoço da data, do prato principal à sobremesa, subiram de maneira expressiva no país – alguns, mais de 40%. Dos ingredientes que costumam fazer parte das receitas do bacalhau de Páscoa, o azeite foi o que mais encareceu de um ano para cá. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do produto subiu 44,23% nesse período. Em segundo lugar ficou a batata-inglesa, que acumulou alta de 42,69% nos últimos 12 meses. O clima adverso é um fator em comum entre os preços dos produtos que mais subiram desde a Páscoa de 2023. No caso de azeite e arroz – que ficou 30,72% mais caro nos últimos 12 meses -, os problemas de oferta no mundo são consequência direta do El Niño. No Brasil, a safra da batata foi prejudicada pelo aumento do volume de chuvas na safra de inverno e pela falta delas no início da colheita. Por influência da tradição católica, que prevê abstinência de carne vermelha durante a Quaresma, o consumo de pescado aumenta após o Carnaval – e o aumento da demanda costuma puxar para cima os preços. Mas, curiosamente, o preço do bacalhau, um dos produtos mais procurados nessa época, foi um dos que menos se alteraram de um ano para cá. Segundo o IPCA, o peixe acumulou alta de 2,24% entre fevereiro de 2023 e fevereiro de 2024. Havia razão para uma alta mais expressiva. Segundo Aniella Banat, diretora de Processamento e Comercialização da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), desde que as operações do Ministério da Agricultura de liberação de cargas foram transferidas para as fronteiras, em 2021, passaram a ocorrer mais atrasos nesse trabalho. “Com a equipe de fiscalização sobrecarregada, os processos ficaram mais lentos, principalmente para o congelado, que não tem prioridade na análise, como o fresco e o resfriado. Essa espera eleva os custos para os importadores, o que se reflete sobre o preço dos pescados importados na gôndola”, disse ela. Um dos fatores que ajudaram a contrabalançar os efeitos desse atraso sobre o preço do bacalhau e outros peixes importados foi a queda da taxa de câmbio. No intervalo de 12 meses entre fevereiro de 2023 e fevereiro deste ano, a moeda americana recuou 4,3% – o dólar comercial está hoje abaixo de R$ 5. Em média, o preço dos pescados subiu 3,31% no último ano, segundo o IPCA. No Mercado do Peixe, em Santos, litoral de São Paulo, o movimento começa a aumentar próximo à quarta-feira de cinzas, mas é nos dias que antecedem a Sexta-Feira Santa que as vendas explodem. Como está em época de defeso, o camarão também está mais caro. Entre os meses de janeiro e abril, é proibido capturar, transportar, armazenar ou comercializar as espécies rosa, sete-barbas, santana e barba-ruça. Com menos oferta e demanda aquecida, os preços sobem. Algumas espécies têm atraído mais a atenção dos consumidores. Os pequenos pelágicos, como sardinha, cavalinha e sardinha-laje, por exemplo, são as opções mais acessíveis. A tilápia, outra espécie que está agora com preços um pouco mais baixos do que nos meses anteriores, é também uma boa alternativa, segundo os comerciantes.
Páscoa será mais cara. E nem é culpa do bacalhau
Por Anselmo Brombal
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